– Uma crônica de Micaele Jenifer –
As pessoas não se importarão com seus conhecimentos sobre coisas que te fascinam e que estimulam sua imaginação, como astronomia, mitologia ou arte e poesia, eles querem saber se você decorou os conteúdos que cairão em provas ou concursos, apenas esse conhecimento será considerado válido.
Elas não se importarão com seus talentos ou capacidades, elas querem saber de suas notas escolares, seu currículo profissional e se caso um dos teus talentos possa realmente te trazer dinheiro, aí elas se importarão com suas particularidades.
As pessoas não se importam se você é capaz de escrever poemas, expressar seus sentimentos ou inventar estórias para o papel, elas querem saber se sua escrita é capaz de alcançar uma nota 1000 em alguma prova de redação, então sua escrita será valorizada.
As pessoas não se importam com o seu lado substancial, mas sim com seu lado funcional: se você traz lucro, se você possui um status respeitável, te julgam por notas, por números. Elas não querem saber como você é como indivíduo, querem saber quem e o que você é na sociedade para poder te colocarem em alguma posição social que seja condizente com seu status, assim você será tratado pela sua posição, não por ser uma pessoa.
Por isso, hoje as pessoas vivem de modo falso, de modo funcional, procurando desesperadamente alcançar uma posição elevada no status social para sentirem-se incluídas nesse ranking superficial…
As pessoas perderam a essência, pois a mesma já não é mais valorizada… Elas querem saber o que você tem, não o que você é.
É tão difícil ser um pouco humano em uma sociedade onde as pessoas agem como máquinas… Sentirei-me pra sempre uma intrusa, uma nômade perdida nessa sociedade metódica…’
Micaele Jenifer é estudante de Antropologia, na Unila, em Foz do Iguaçu, Pr. Texto publicado na revista Escrita 45.
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