Já é realidade: convivemos com os efeitos catastróficos da mudança climática. O planeta aumentou 1,5º C e isso já foi o suficiente para vermos geleiras descongelando, mares avançando, chuvas extremas, inundações e deslizamentos, secas onde havia abundância de água. O Caminhos da Reportagem desta semana mostra que esses eventos têm sido mais frequentes e deixado vítimas e destruição por onde passam.
Apesar de ter a maior floresta tropical do mundo, o Brasil também tem altas taxas de emissão de CO2 na atmosfera, o principal gás do efeito estufa. “A gente tem uma malha rodoviária que estimula o tempo todo o uso de veículos à combustão, mas, sem dúvida alguma, a maior contribuição do Brasil para a emissão de gases do efeito estufa é via desmatamento”, afirma Rafael Rodrigues da Franca, professor do Departamento de Geografia da Universidade de Brasília, UnB.
Para a ministra do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas, Marina Silva, o prejuízo da falta de tomada de atitude no passado é enorme. “Agora, nós vamos ter que continuar mitigando, diminuindo a emissão de CO2 para não agravar o problema, não ultrapassar 1,5º C de temperatura da Terra, porque senão, aí, é o caos completo”, afirma.
A seca na Amazônia pode se repetir em pouco tempo – Divulgação/TV Brasil
Em 2024, a seca na Amazônia deu sinais da gravidade do problema. Em alguns locais, a temperatura da água chegou aos 40ºC. “Os peixes começaram a morrer, nem nós sabíamos o que fazer vendo aquele horror de peixes mortos, até mesmo botos”, conta a pescadora Anailê Alves de Sá Carneiro. Moradora da comunidade Cachoeira do Castanho, em Iranduba, no Amazonas, ela afirma que até hoje ainda é difícil pescar peixe por ali.
Segundo Miriam Marmontel, líder do grupo de pesquisas em Mamíferos Aquáticos Amazônicos do Instituto Mamirauá, as notícias não são animadoras para esse ano. “O nível da água não recuperou do ano passado, ele está um metro mais baixo do que deveria estar da nossa média histórica”, alerta.
Pescadora Anailê Carneiro conta que água chegou a 40ºC e matou peixes na Amazônia – Divulgação/TV Brasil
O que aconteceu no Rio Grande do Sul este ano e chamou a atenção de todo o país não é um caso isolado. Desde 2011, o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais, CEMADEN, acompanha eventos mais extremos que têm se repetido. “A gente tem observado com bastante clareza esse aumento de frequência e da severidade dos eventos, que acabam culminando em impactos muito significativos para pessoas, infraestruturas e meio ambiente”, afirma a diretora do centro Regina Alvalá.
Reconstruir a vida após uma tragédia não é fácil. Em Petrópolis, após os deslizamentos de 2022 que mataram 235 pessoas, cerca de 4 mil pessoas ficaram desabrigadas. Algumas obras foram feitas, áreas interditadas, mas ainda não foi o suficiente. “A tragédia pode se repetir, infelizmente, a cidade não está preparada ainda. Há 76 mil famílias ainda que moram em áreas de risco em Petrópolis, é muita gente”, avalia Cláudia Renata Ramos, presidente do Movimento Aluguel Social e Moradia de Petrópolis.
A empregada doméstica Eliane Martins mostra onde foi o deslizamento que matou sua filha em Jaboatão dos Guararapes (PE) em 2022 – Divulgação/TV Brasil
Sobreviventes de outra tragédia, em Jaboatão dos Guararapes, em Pernambuco, o motorista de ônibus Reginaldo Feitosa e a empregada doméstica Eliane Martins também perderam tudo em 2022, no deslizamento do bairro Jardim Monte Verde. A filha deles morreu soterrada, além de outros 11 parentes que moravam próximos. Mesmo conseguindo reconstruir os bens materiais, sabem que o vazio que fica não vai ser preenchido. “Perdi minha saúde, meu psicológico, perdi tudo. Não sou mais a mesma pessoa”, admite Eliane.
Reportagem: Flavia Peixoto Reportagem Cinematográfica: André Rodrigo Pacheco (DF), Ronaldo Parra (RJ), Bartolomeu Rocha (PE), Francisco Barroso (AM) Auxiliar técnico: Alexandre Souza (DF), Caio Araujo (RJ) Apoio Reportagem Cinematográfica: Jorge Brum (Df), Sigmar Gonçalves (DF) Apoio Auxílio Técnico: Daílton Matos (DF), Raimundo Nunes (DF) Produção: Cleiton Freitas (DF), Patrícia Araújo (DF), Ana Passos (RJ), Aline Oliveira (PE), Larissa Correia (PE), Wesley Lira (AM) Edição de Texto: Carina Dourado Edição de Imagens e Finalização: Rivaldo Martins Design: Carlos Drumond Videografismo: Alex Sakata
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