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Disparidade de gêneros na ciência e na academia inspirou na criação de nova disciplina na FFCLRP – Foto: Edward Jenner/Pexels
Na USP cerca de 40% do corpo docente dos professores doutores é de mulheres, “ao passo que, quando vai progredindo nos níveis da carreira, isso diminui”, afirma a professora Annie Schmaltz Hsiou, do Departamento de Biologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP. Nesse sentido, aproximadamente 30% são professoras associadas e quase 23% são professoras titulares. Essa disparidade de gêneros na ciência e na academia inspirou a professora e sua colega Francirosy Barbosa, do Departamento de Psicologia, também da FFCLRP, a criarem a disciplina Mulheres: Poder, Ciência e Universidade.
. Enquanto as mulheres foram renegadas, ao longo dos anos, à “reprodução social do trabalho” e sendo designadas a atividades domésticas não remuneradas, algo que “fortaleceu os famosos papéis de estereótipos de gênero”, argumenta Annie, “os homens tiveram essa exposição pública, atingindo cargos de poder, tendo exposições políticas, dentro do cenário de dominação do sistema patriarcal como um todo”.
. Ainda, de acordo com a professora Annie, “são vários aspectos e várias questões que permeiam esse assunto, por mais mulheres na ciência”. Para abranger essa multiplicidade de demandas, as professoras elaboraram um programa que perpassa variados temas que envolvem as mulheres na ciência e nos ambientes acadêmicos.
. Francirosy diz que a disciplina vai “dar um pouco de escuta para as mulheres sobre o lugar das mulheres na academia”. Esses lugares de conhecimento, de produção de conhecimento, da maternidade, das questões de raça e gênero”. Por isso, a opção por abordar diferentes temas: “A gente vai falar um pouco dessa história do feminismo, mas é esse feminismo engajado nessas lutas científicas e essas percepções também das questões de raça, gênero e o assédio, que é uma coisa que, infelizmente, a gente vive muito na academia ainda”, lamenta a professora.
. “A gente resolveu que era uma disciplina bastante aberta, fluida, no sentido de trazer outras mulheres, outras experiências para esse diálogo”, conta Francirosy. A disciplina vai contar com professoras convidadas de outros campi da USP e de outras universidades participando remotamente, num ciclo de debates, e será transmitida pelo Centro de Tecnologia da Informação de Ribeirão Preto (CeTI-RP) da USP.
. As aulas e o ciclo de debates vão ser sempre às quartas-feiras, das 10h10 às 12h10. As aulas somente para alunos matriculados na disciplina e serão divididas em dois módulos: Contextualização e histórico do movimento de mulheres, Movimento de mulheres internacional, Movimento de mulheres na América Latina e Brasil; e Contextualização e histórico de mulheres na Ciência; Mulheres na Ciência internacional; Mulheres na Ciência na América Latina e Brasil, Avanços e desafios das mulheres na Academia, Assédio sexual e moral no âmbito acadêmico. Dezembro será o final da disciplina com a aula Parentalidade na Academia.
. Já o ciclo de debates poderá ser acompanhado pelo canal do CeTI-RP no YouTube. No dia 31 de agosto, a professora Gabrielle Weber, da Escola de Engenharia de Lorena (EEL) da USP, ministra a palestra Levanta Gay Bora Trabalhar, Questionar e Investigar na Academia (e mais um pouco). A palestra Legalização e Descriminalização do aborto, com a professora e palestrante convidada Luciana Brito, da Universidade de Brasília e do Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero – Anis, marcará o início as atividades de outubro, no dia 5.
. O mês de novembro será marcado por diversas palestras do ciclo de debates. No dia 9, a professora da Faculdade de Direito de Ribeirão Preto (FDRP), Fabiana Severi, e a professora do Departamento de Psicologia da FFCLRP, Thaís Zerbini, vão participar da palestra Violência e assédios. No dia 16, a mestra da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP, Kelly Amaral Brito, vai apresentar a palestra Consciência Negra I. No dia 23, a professora e palestrante convidada, Jaqueline Teixeira, da Universidade de Brasília (UnB), vai dar continuidade à temática com a palestra Consciência Negra II. Finalizando o mês, no dia 30, a professora e palestrante Adriana Alves, do Instituto de Geociências (IGc) da USP, vai participar do Consciência Negra III. Todas as atividades do ciclo de debates vão ser realizadas no Anfiteatro do CeTI-RP.
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