Uma pesquisa realizada pela UNILA apontou, entre outros resultados, a existência de uma forte demanda por materiais didáticos em direitos humanos, valores e cidadania, por parte de professores da Tríplice Fronteira. Esses materiais começam a ser disponibilizados pela equipe do projeto De Mãos Dadas por Amplos Caminhos.
O objetivo é que professores de diferentes países possam utilizar o material. “Os materiais didáticos consideram questões, fatos ou temas comuns de toda a América Latina e Caribe”, comenta o coordenador do projeto e docente de Espanhol, História da Educação e Filosofia da Educação, Miguel Ahumada Cristi.
Para chegar à metodologia e aos conteúdos, a equipe fez uma análise dos currículos e didáticas escolares e também da legislação dos diferentes países relacionada a direitos humanos, direitos da criança e do adolescente, educação das relações étnico-raciais, igualdade de gênero, inclusão, ética e cidadania. “Estudamos os direitos humanos e os direitos da criança e textos científicos que abordavam essas questões a partir da educação. Isso permitiu uma maior compreensão dos fundamentos e da relevância desses direitos para a vida em sociedade”, comenta o docente. “Posteriormente, analisamos algumas leis e decretos de todos os países que compõem a América Latina e o Caribe no que se refere à educação em direitos humanos, valores e cidadania. Optamos por criar os materiais didáticos a partir de questões comuns entre os documentos desses países.”
A equipe encontrou diferenças mínimas entre as legislações, uma vez que todas são baseadas na Declaração dos Direitos Humanos e dos Direitos das Crianças, mas Miguel Ahumada destaca algumas particularidades. “Existem países que valorizam e promovem a educação sexual e de gênero a partir da escola, enquanto outros não mencionam esses conceitos. Alguns Estados, declarados plurinacionais e interculturais, como a Bolívia, têm leis e um currículo escolar em que a ideia de interculturalidade se destaca bastante.”
O material didático traz cartilhas com sugestões de leitura, atividades e exercícios com base no diálogo e trabalho coletivo, que estão divididas em quatro cadernos com diferentes temas: 1 – Educando-nos em direitos humanos; 2 – Riquezas culturais dos povos afrodescendentes da América Latina e Caribe; 3 – Riquezas culturais dos povos indígenas latino-americanos e caribenhos; 4 – Diversidade e inclusão na América Latina e Caribe. Além dos cadernos, o projeto prevê a realização de vídeos com conteúdos voltados para a ética da educação no âmbito escolar.
“Os materiais didáticos são feitos de modo a integrar as esferas mais importantes da educação e que estão explícitas em todas as bases curriculares da América Latina e Caribe: a dimensão intelectual, a afetiva/emotiva e a ética. De fato, as cartilhas promovem o desenvolvimento simultâneo e equilibrado entre habilidades cognitivas, a sensibilidade moral e a reflexão ética”, pontua Miguel Ahumada.
O docente explica que o material didático também leva em consideração o fato de que a “a leitura é um direito que nunca deve ser restrito ou ameaçado”. “Por isso, disponibilizamos leituras – textos escritos pelos membros da equipe – para o crescimento psicológico das crianças a partir do ato de ler”.
O Caderno 1 tem duas cartilhas disponíveis e as demais devem ser publicadas até dezembro. Para o segundo caderno da série, “Riquezas culturais dos povos afrodescendentes da América Latina e Caribe”, os pesquisadores decidiram abrir uma convocatória para que outras pessoas possam participar. “A equipe de criação entendeu que o segundo caderno tratará um tema muito relevante e urgente, que é a valorização das riquezas das culturas afrodescendentes da América Latina e Caribe”, explica o docente. “Ao fazer uma convocatória, qualquer pessoa, coletivo ou agrupamento, especialmente os formados por pessoas negras, poderá colaborar conosco”, completa.
Os pesquisadores estão buscando colaborações em temas como literatura afro-latino-americana e afro-caribenha, raízes e cultura das comunidades quilombolas ou comunidades remanescentes da cultura africana na América Latina e Caribe, mulheres negras e movimento feminista na História da América Latina e Caribe, entre outros (acesse a convocatória em https://www.poramploscaminhos.com.br/materiais-materiales).
A coordenação do terceiro caderno vai ficar a cargo de Sthep Lotus, de descendência indígena Xukurus-Karirie e o quarto e último caderno será organizado por Fernando Santana. “A responsabilidade de debater sobre um assunto tão urgente como a diversidade é muito importante no ambiente escolar, pois nos possibilita lidar com igualdade, alteridade e inclusão entre diversos grupos de pessoas que já estão marginalizadas dentro da sociedade e consequentemente dentro da escola”, diz Fernando. “Trabalhar atividades que possibilitem desenvolver conceitos humanistas auxilia no combate das desigualdades, da violência simbólica e física, do sexismo e dos preconceitos enraizados do senso comum. Também é muito importante mencionar que quando se propõe a igualdade entre todos e todas na sociedade não quer dizer invalidar nenhuma forma de existência, mas assegurar um local democrático, em que todas as diferenças sejam possíveis.”
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