Asdrúbal Cunha, o Bingo, marcado na foto pelo círculo amarelo. – Foto: reprodução
Depois de muita luta na Liga Paulista, Corinthians conseguiu inscrever, pela primeira vez na história, um negro para a disputa de jogos com o uniforme corintiano. Bingo entrou para a história junto ao Corinthians, sendo um dos primeiros e poucos clubes a aceitar jogadores negros, no distante ano de 1919.
O Timão sempre foi marcado pela sua história análoga à história do povo brasileiro. Depois de ter sido fundado em 1910, por um grupo de operários, o Corinthians entrou em uma briga política com a Liga Paulista de Futebol pelo direito de disputa do campeonato, ao lado de times de elite na época, como o CA Paulistano.
Bingo, ambidestro e goleador
Além da luta pelo direito da disputa do campeonato, o Timão também travou uma batalha para a inscrição de um jogador negro. O Corinthians tentou inscrever Davi, mas a Liga na época rejeitou. Em 1919, Bingo foi o primeiro negro a jogar com a camisa corintiana.
Bingo estreou em 9 de fevereiro de 1919 numa partida amistosa contra a Ponte Preta de Campinas. Mesmo entrando no decorrer da partida em substituição a Garcia, conseguiu deixar sua marca duas vezes na vitória alvinegra por 5 x 0. Na partida seguinte contra um Combinado da 2ª divisão, Bingo começou jogando, e marcou o primeiro gol da vitória por 4 x 2.
Bingo mostrou-se ser um atacante versátil que chutava bem com as 2 pernas, e tinha faro de gol, tanto que em 8 partidas disputadas pelo Timão deixou sua marca 5 vezes. Dizem que o precoce desaparecimento do jogador deve-se a Neco, a grande estrela do time na época, que teria ficado enciumado com o sucesso repentino do atacante negro.
Pelo Timão, Asdrúbal Cunha, o Bingo, entrou em campo em oito oportunidades, marcando cinco gols.
Na luta contra a discriminação racial no futebol, a atitude dos operários corintianos foi fundamental. Entretanto, já não era inédita. Atitudes pioneiras aconteceram antes inclusive ao surgimento do Corinthians. A Ponte Preta, de Campinas – SP, por exemplo, já em 1900 teve entre seus fundadores, o negro Miguel do Carmo. Ele também atuou como jogador de seu clube.
Seguindo os passos da Macaca (apelido depreciativo, mas que depois foi adotado pela torcida), em 1907, o Riograndense, clube gaúcho, teve como um de seus fundadores um negro chamado Francisco Rodriguês, pai do compositor Lupicínio Rodriguês (que entre tantas canções, é autor do hino do Grêmio).
Já a Associação Atlética São Geraldo não teve um, mas vários negros ajudaram à sua formação, em São Paulo. Não podendo participar dos jogos com os brancos (futebol era coisa da elite), foi um clube formado por negros, para que os negros pudessem jogar bola.
Igualmente, outro clube formado por negros foi a Associação Campos dos Goytacazes, no Rio de Janeiro. Assim como o São Geraldo, era um clube formado por negros e para os negros. Foi o primeiro clube formado pela maioria de jogadores negros a ser campeão, quando conquistou o Campeonato Campista, em 1918.
Entre os clubes considerados grandes no Rio de Janeiro, destaque para o Vasco da Gama e seu pioneirismo a ter a participação de negros em suas equipes .
Vasco da Gama, o time que venceu o racismo
O clube carioca foi fundado em 21 de agosto de 1898, por um grupo de remadores. Em 1904, escolheu o primeiro presidente negro para uma associação esportiva no País. Leia, aqui.
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