A partir do Vestibular de Inverno de 2020, a Universidade Estadual de Maringá (UEM) contará com sistema de cotas para negros em seus processos seletivos de ingresso na graduação. A aprovação da implantação e regulamentação do Sistema de Cotas Raciais foi feita hoje (20), Dia Nacional da Consciência Negra, em votação de reunião plenária do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEP) daquela instituição.O processo foi aprovado por 98 conselheiros (4 foram contrários, 7 se abstiveram e 35 estavam ausentes), no Auditório 13 do Departamento de Economia, Bloco C-34. O resultado foi apresentado pelo reitor, Julio Cesar Damasceno.“Assumimos na campanha o compromisso de trazer o assunto para apreciação e de darmos nosso apoio. Aprovar as cotas raciais no Dia da Consciência Negra é uma grande realização, repleta de significado. Reafirmamos nosso compromisso por uma universidade pública e inclusiva”, declara Ricardo Dias Silva, vice-reitor.“O sentimento é de muita alegria, satisfação e alívio. Sabemos que só temos a vitória quando ela realmente chega. Estava preocupada com a resistência, mas agora fica a certeza de que a nossa universidade vai ser mais inclusiva e com mais diversidade”, contenta-se Marivânia Conceição de Araújo, uma das fundadoras do Núcleo de Estudos Interdisciplinares Afrobrasileiros (Neiab).
De acordo com os relatores do processo, fica estipulado o seguinte para os futuros editais dos vestibulares de inverno e verão da UEM:– 60% das vagas serão destinadas à ampla concorrência.– 20% das vagas serão destinadas às cotas sociais (já existentes).– 20% das vagas serão destinadas às cotas para negros: destas, ¾ vão para negros de baixa renda; e ¼ ficam reservadas para negros sem esse recorte social.Observações: 1) O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) considera negros as populações preta e parda; 2) Não haverá cotas raciais para o Processo de Avaliação Seriada (PAS) da UEM; 3) Os cotistas não podem ser portadores de diploma de curso superior; 4) Se detectada falsidade na autodeclaração de cor, os candidatos serão eliminados do vestibular e, caso estejam matriculados na UEM, serão desligados da instituição.
O recinto onde se realizou a votação estava lotado por conselheiros, servidores, estudantes, professores não conselheiros do CEP e profissionais da imprensa regional.O reitor, Damasceno, abriu a sessão definindo o dia como histórico, “não apenas para a história da universidade, mas, sobretudo, para a vida de pessoas, pois, as cotas implicam no projeto de famílias”. O professor também disse que via na aprovação uma forma de reparar as injustiças históricas sofridas pelos negros.Na mesa de abertura também estavam Dias Silva, vice-reitor, e Sérgio Carlos de Carvalho, reitor da Universidade Estadual de Londrina (UEL), onde há cotas sociais e raciais há 15 anos. “As universidades têm que pensar em políticas dessa natureza. É sempre um grande desafio e motivo de ansiedade dar esse passo, mas temos que pensar nele pela história do país e das próprias universidades. As universidades, como instrumento público, têm que democratizar a entrada para todos os membros da sociedade”, expôs Carvalho.
Desde julho do ano passado, o Coletivo Yalodê-Badá, o Neiab e o Diretório Central dos Estudantes (DCE) da universidade intensificaram à Reitoria o pedido de abertura de cotas para negros, inclusive com recolhimento de mais de 3 mil assinaturas em um abaixo-assinado e cartas de apoio de movimentos sociais. O requerimento oficial foi entregue em agosto daquele ano.O Neiab foi criado há 13 anos e desde o início lutava pela incorporação dessa ação afirmativa. Inclusive, o assunto já esteve em pauta no CEP em 2008, quando as cotas raciais foram discutidas e rejeitadas, tendo sido aprovadas as sociais.Do segundo semestre de 2018 até agora, o processo ficou em tramitação. Em agosto de 2019, o assunto ganhou ainda mais visibilidade quando o Neiab colaborou com a criação do grupo Professores Pró-Cotas Raciais na UEM. No último dia 6, a Câmara de Graduação, Extensão e Educação Básica e Profissional do CEP já havia dado parecer favorável ao processo de implantação e regulamentação das cotas.
Dados da Diretoria de Assuntos Acadêmicos (DAA) da UEM sobre os cerca de 17,2 mil estudantes matriculados em cursos de graduação, separados por autodeclaração de cor:Brancos – 66,01%.Negros – 20,37% (17,39% de pardos e 2,98% de pretos).Não declarados – 7,93%.Amarelos – 5,29%.Indígenas – 0,4%.Dados da Comissão de Vestibular Unificado (CVU) da UEM sobre os aprovados nos dois vestibulares mais recentes (aproximadamente 3 mil vagas), separados por autodeclaração de cor:Vestibular de Verão 2018Brancos – 74,30%.Negros – 19,21% (16,60% de pardos e 2,61% de pretos).Amarelos – 6,40%.Indígenas – 0,08%Vestibular de Inverno 2019Brancos – 76,49%.Negros – 16,94% (14,95% de pardos e 1,99% de pretos).Amarelos – 6,57%.Indígenas – 0%.
______________________Editado a partir de Assessoria de Imprensa da UEM
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