Neste 26 de outubro, Darcy Ribeiro, antropólogo, historiador, sociólogo, educador, escritor e político completaria 100 anos. Darcy participou do projeto de criação da Universidade de Brasília e foi o primeiro reitor na instituição, em 1961. Membro do governo de João Goulart, foi cassado pelo regime militar de 64. Voltou do exílio para ser vice-Governador do Rio de Janeiro e Senador da República pelo PDT de Leonel Brizola, sempre defendendo a inclusão dos oprimidos e a democratização das escolas como ferramenta de transformação.
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Entre 1946 e 1956, Darcy Ribeiro trabalhou em aldeias indígenas do Pantanal, do Centro-Oeste e da Amazônia – Foto: Acervo Fundar
No ano em que Darcy Ribeiro completaria 100 anos, o sociólogo, antropólogo, professor, escritor, indigenista, membro imortal da Academia Brasileira de Letras, ex-ministro da educação e da casa civil, é homenageado como símbolo no ano comemorativo da UERJ. Personagem imprescindível na construção das políticas de educação no Brasil, Darcy Ribeiro foi responsável pela fundação da Universidade de Brasília (UnB) e da Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF), bem como pela criação de um generoso projeto de educação em tempo global no Estado do Rio de Janeiro (os Cieps). Esse imortal centenário contribuiu para a organização da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (Lei nº 9394/96) e para o art. 8º da Lei Estadual nº 5.361, de 29 de dezembro de 2008, que versa sobre incentivos à inovação e à pesquisa científica e tecnológica no Estado do Rio de Janeiro. Com seu lado antropólogo e político, nosso homenageado foi extremamente relevante para a causa indígena, tendo participado do serviço de proteção ao índio (atual Funai), idealizado o Museu do Índio e o Parque Indígena do Xingu.
. Para a Unesco, formulou estudo do impacto da civilização sobre os grupos indígenas brasileiros no século XX, colaborou com a Organização Internacional do Trabalho na geração de um tratado sobre os povos nativos de todo o mundo, planejou e conduziu o primeiro curso de pós-graduação em Antropologia no Brasil. Darcy Ribeiro foi figura essencial na defesa e consolidação do Estado Democrático de Direito no Brasil e na luta contra a ditadura militar em nosso país. Com sua luta e resistência contra as discrepâncias sociais e seu foco na promoção da educação de qualidade para todos, Darcy Ribeiro foi reconhecido com títulos de doutor honoris causa emitidos pelas Universidades de Sorbonne, Copenhague, Uruguai, Venezuela e Universidade de Brasília. Falecido em 1997, seu legado para as políticas educacionais está vivo na LDB, assim como nos traços que Niemeyer imprimiu nos Cieps fluminenses. Seu pensamento segue inspirando nosso pensamento moderno, como motivador das causas em defesa da educação e de uma coletividade que também reconheça e privilegie os povos originários no Brasil. Viva Darcy Ribeiro!
Antropólogo, acadêmico, educador, político, visionário e escritor. Darcy Ribeiro dedicou-se à educação, não só em discursos, mas como homem de Estado e de ação. Por isso escreveu muito. Foram dezenas de obras publicadas.
A produção de Darcy, que chegou a fazer parte da Academia Brasileira de Letras (ABL), pode ser dividida entre cinco grandes grupos. Os seus quatro romances (Maíra, O Mulo, Utopia Selvagem e Migo). Os de conteúdo etnológico, nos quais tratou de línguas e costumes dos povos indígenas. Os de cunho antropológico, sobre a formação e o processo civilizatório do Brasil e das Américas. Os ensaios acadêmicos sobre os temas aos quais se dedicou. E seus livros sobre educação.
Em tempos de descrença no Brasil, de sequestro de nossos símbolos nacionais pela extrema-direita mais violenta e reacionária, pode ser uma boa estratégia revisitar um passado no qual tínhamos um futuro. Recordemos Darcy Ribeiro (1922-1997), cujo centenário de nascimento deverá ser muito comemorado no próximo ano. Estão previstos desde um Seminário Internacional (intitulado “100 anos de Darcy Ribeiro: intelectualidade e pensamento crítico latino-americano”) até reedições de sua obra e lançamentos de livros que refletirão sobre seu criativo legado.
Darcy merece ser lido e relido. Ele foi mais que o inventor da Universidade de Brasília, do Museu do Índio, do Sambódromo do Rio de Janeiro, do Memorial da América Latina, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira. Foi um dos pensadores mais criativos da América Latina. Ler Darcy resgata a fé de que o Brasil e a região podem ser viáveis, que podemos ter um lugar no futuro.
Brasil celebra o centenário do grande antropólogo Darcy Ribeiro – Imagem: Reprodução
. Darcy foi um dos primeiros brasileiros a assumir uma identidade latino-americana, rompendo com a tradição brasileira de isolamento na região. Isto se deu a partir do seu exílio em diversos países da região entre 1964 e 1976, pelo Uruguai, Chile, Venezuela e Peru. Ministro da Educação e Chefe da Casa Civil de João Goulart, se exilou imediatamente após o golpe militar de 1964. A partir daí desenvolveu sua identidade latino-americana, para ele compatível com a brasileira.
. Para Darcy, o que garantia a unidade latino-americana seria a herança ibérica da colonização, que nos legou um papel subordinado no mundo. Mas algo de positivo a herança ibérica deixou, além da unidade entre tantos povos, entre tanta gente em tão vastos territórios, fruto do mesmo processo civilizatório ibérico: a miscigenação. Ocorrida com base na violência e no racismo, essa miscigenação produziu povos mestiços, que por isso estariam bem-posicionados para o futuro. Por ter recebido o melhor das heranças branca, negra e indígena, a América Latina poderia salvar o Ocidente, gestando aqui uma nova civilização mais solidária, mais aberta, mais amorosa. Somos pobres, mas estamos só começando. Melhor uma “pobreza inaugural” que uma “opulência terminal”. “Temos todo um mundo a refazer”, afirmava Darcy.
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