A sala de recepção (recepção seria o termo?) da Upa está lotada de anseios e dores. Uma terça-feira fria, depois de calor intenso. Crianças tossem em grupos, uma lá no canto chora. A mãe a abraça como se seus braços fossem um estranho cobertor. Mais ao fundo, como um relógio, um velhinho, encurvado, mãos na altura do estômago, solta um gemido a cada minuto. O relógio mostra pouco mais das 6h30 da manhã. Quando a Tv na sala de espera (a tal de recepção) anuncia, em um volume inadequado para um posto de saúde, a entrada de um repórter. Tinha você dúvidas de que a Tv estivesse sintonizada na Vênus Platinada? O rapaz pergunta qual um vendedor de consórcio de boas notícias. Adivinhe qual o país que mais recicla embalagens de agrotóxicos do mundo? Pronto. No país onde o grande irmão é programa nacional, a sala entra em suspense. Até as crianças param de chorar. O velhinho ganha posição ereta, expectativa… O repórter (polianismo pouco é besteira) respira fundo, aguarda o efeito necessário de seu silêncio (ele é sucesso…) e crava. Isso mesmo. O Brasil é o campeão mundial de recolhimento de embalagens vazias de agrotóxicos. Em tempo: agrotóxico foi um termo cunhado, na década de 80, pelos donos do poder para substituir o nocivo termo veneno agrícola.
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