“Avenida Mata Verde”, viela em Foz do Iguaçu – Foto: Adna Rahmeier
Primeiro, desocupa-se de gente. Depois chegam as máquinas e por uma semana ou duas antes das caçambas recolherem aquilo que é um pedaço da minha história, fica o pó jogado nas histórias. A teimosia de minha memória.
Existe uma rua do meu bairro que vai sumir. E das avenidas mais improváveis esse é um daqueles lugares da rotina onde dias a estranheza não cessa. Uma viela que leva nome de avenida Mata Verde. Uma rua esquecida pela prefeitura e que existe através de um manto vermelho feito de terra. Volta e meia se torna nosso reflexo e fica cheia de buracos. Mas ainda assim é um local que desconhece o calor do asfalto.
Gosto dessa rua porque ela me faz lembrar que no mundo existem gotículas de espaço que não podem ser remendados. Uma singela viela escondida numa brecha cartográfica que é como eu ou você: pedaço de solo sagrado.
Intocada pelo tempo permanece conduzida por ciclos. Nessa coreografia, a civilização avança e a cidade muda. O futuro atravessa a finitude e a gente sente nossas memórias pegando fogo, logo ali, ao alcance da retina. Sertão também é mapa antigo.
A memória da minha cidade está sendo corroída. Escavadeiras demolem a cartografia de uma história e homens constroem um novo caminho para a civilização passar. De geração em geração assistimos tudo mudar lugar. A memória não é algo que permanece, ela é anfíbia de nossa condição.
(mas eu vou carregar a primeira Foz do Iguaçu que conheci, bem aqui, na palma do coração).
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