. As produções audiovisuais no Brasil ainda são majoritariamente dirigidas e têm em seus elencos pessoas brancas. A informação consta na pesquisa divulgada pelo Gemma, Grupo de Estudos Multidisciplinares de Ação Afirmativa da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
. Segundo o estudo, 84% dos diretores analisados entre os anos de 2002 e 2012 eram homens brancos; 13% eram mulheres brancas; e 2% homens negros. Na época, o percentual era de nenhuma mulher negra. Assim, na contramão dessa pesquisa, uma produção de Belém, capital do Estado do Pará, rompe com esses dados.
A WebSérie Pretas é produzida e protagonizada por mulheres pretas. Em sua edição emergencial de cinco episódios, o telespectador conhece as histórias dessas mulheres e suas dificuldades durante a pandemia. O projeto foi contemplado por editais da Lei Aldir Blanc no Pará, realizados pela Secretaria de Estado de Cultura (Secult).
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O lançamento da WebSérie está previsto para dia 20 de novembro, 18h30, pelo IGTV. Siga: @pretaswebsérie
A diretora de fotografia da Negritar Produções, Suane Barreirinhas, explica que a ideia partiu de vivências que elas mesmo tiveram e têm no dia a dia:
. “A gente resolve se unir e fazer uma websérie na pandemia sobre coisas que aconteceram na pandemia com mulheres pretas, que são histórias muito perto da gente, nossas e que aconteceram com pessoas próximas que ficaram desempregadas, que enfrentaram racismo e são também histórias de mulheres que se apoiam. Foi isso o que vivemos e fazemos tudo isso na vertical”.
. Barreirinha explica que tudo muda ao rodar as cenas na vertical, e que essa escolha também foi proposital e teve a finalidade de fugir dos padrões etnocêntricos. “Eu moro na Comunidade da Vila da Barca, na periferia de Belém, a Joyce Cursino [diretora] é do Jurunas, a Tâmara Mesquita [direção de Produção] da Terra Firme, ambos bairros periféricos, a May Coelho [roteirista] é de Benevides, município da região metropolitana de Belém. Então, todas nós sabemos e vivemos as dificuldades que contamos nesses episódios”, afirma.
. Suane diz ainda que o trabalho da Negritar Produções não se restringe a, apenas, captar imagens e divulgá-las, a produtora é um espaço que busca provocar impacto social”. “Tu podes perguntar, mas o que isso quer dizer? Quer dizer que não vamos na casa de uma pessoa que passa fome e ao terminar a gravação, deixamos a pessoa passando fome e vamos embora. Tentamos fazer com a aquela pessoa não passe mais fome. Fazemos nossas produções, mas alinhadas com as nossas ações sociais”.
. Suane é uma das poucas integrantes da Negritar cuja mãe não exerceu ou exerce a profissão de empregada doméstica. May Coelho, Joyce Cursino e Geovana Mourão [Making off e Still] são filhas de doméstica. A jornalista que escreve a reportagem, também.
. “Sempre digo para a minha mãe, que ela é minha força e inspiração”, diz Joyce. Já May Coelho conta que a mãe enfrentou muitas dificuldades durante a pandemia, assim como todas as domésticas. No dia 4 de Maio de 2020, em meio ao lockdown foi publicado no Diário Oficial do Estado do Pará a decisão que as empregadas domésticas poderiam circular livremente, porque a profissão era essencial.
Uma das histórias é a de uma jovem quilombola que foi aprovada no vestibular, mas foi prejudicada pela falta de acesso à internet na sua comunidade. – Créditos: Negritar Produções/Arquivo Pessoal
. A websérie conta a história de Maria Felipa (Rosilene Cordeiro), uma escritora de ficção reconhecida internacionalmente, que assume para si a missão de contar histórias de mulheres negras brasileiras e suas vivências durante a pandemia de COVID-19.
. O destino da personagem cruza com o de Nansi (Mayara Lopez), Carolina (Ângela Gabriela) e Enedina (Isadora Lourenço).
. Um dos episódios conta, justamente, a história das mães de várias integrantes da Negritar: as dificuldades que as trabalhadoras domésticas tiveram na pandemia, já que no Pará, o serviço foi considerado essencial durante a pandemia.
. Há também a história de uma jovem quilombola que é aprovada no vestibular, mas com o advento da pandemia fica sem acesso à internet e o de uma médica preta e os preconceitos enfrentados por quem teve que além de ficar na linha de frente precisa lidar com o racismo estrutural.
. Para a diretora da WebSérie, Joyce Cursino, esse é um sonho de seis anos, que finalmente, ganha corpo. “A websérie mostrou o quanto é importante produzir conteúdos com uma equipe 100% negra. A experiência enriqueceu de forma positiva nossas vidas. Na grande maioria as meninas ainda não tinham nenhuma experiência nos set de gravação e nunca tiveram oportunidade de fazer parte desses espaços de protagonismo”, diz.
. Ela diz que, além disso, o projeto consegue gerar renda para a população preta. “Nosso trabalho não é só produzir, mas sim colocar pessoas pretas no circuito do audiovisual. Queremos ir além das fronteiras das mídias sociais, ir para as ruas, para as comunidades e mostrar quem são essas mulheres que estão produzindo. Inclusive, ir nas comunidades das atrizes. Por isso, o Pretas na Pandemia também será exibido em escolas e comunidades da periferia de Belém.
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