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Luiza: estudar para continuar a atividade da família. Luís: retomar as origens, indo da cidade de volta ao campo – Fotos: Denise Paro
Reportagem especial para Guatafoz de Denise Paro
. Luiza Grunevald tem apenas 15 anos, mas já bateu asas e mora longe da família. Filha de agricultores brasileiros que vivem no Paraguai, este ano ela deixou o município de Raúl Penã, a cerca de 130 quilômetros de Foz do Iguaçu, para estudar no Colégio Agrícola.
“Nós trabalhamos na roça. Eu vim fazer o curso para voltar para roça ou trabalhar no agronegócio”, conta. Luiza faz parte de uma geração da era tecnológica que não quer trocar o campo e as lavouras pelos escritórios regados a ar-condicionado.
A aluna é uma das que moram no colégio, a exemplo do colega dela, Luís Henrique Três que também tem 15 anos e veio de São Miguel do Iguaçu. Apaixonado por animais, ele quer concluir os estudos no colégio e cursar medicina veterinária. “Gosto muito de mexer com animais”. Luís é de uma família do campo que foi para cidade. Ele agora quer fazer o caminho contrário. “Pretendo voltar para o campo”.
Além do curso técnico em agropecuária, a escola oferece cursos técnicos em química, meio ambiente e guia de turismo – Foto: acervo do Colégio
São adolescentes assim, que têm afinidade com o meio rural, que disputam vagas todos os anos no Colégio Agrícola de Foz do Iguaçu.
Segunda instituição estadual mais antiga de Foz do Iguaçu, o colégio foi criado em 12 de junho de 1953 e hoje é referência no estado. Criada com o nome de Escola dos Trabalhadores Rurais DR. Ernesto Luiz de Oliveira”, em 1962 passou a ser denominada como Escola dos Trabalhadores Rurais Manoel Moreira Pena. Desde então seu nome passou por variações até chegar ao nome atual: Centro Estadual de Educação Profissional Manoel Moreira Pena.
O colégio tem uma área de 69.7 hectares, incluindo um campo experimental que funciona ao modo de uma fazenda. Além do curso técnico em agropecuária, a escola oferece cursos técnicos em química, meio ambiente e guia de turismo.
Os alunos tem acesso a equipamentos que vão de tratores aos laboratórios de informática e de química – Foto: Denise Paro
. As aulas são teóricas e práticas e os estudantes, vão efetivamente, para o campo. Plantam, colhem, tiram leite, fazem produtos da agroindústria, dirigem trator, ou seja, vivem em uma verdadeira fazenda dentro da cidade. Parte da produção é comercializada na própria escola, onde são vendidos queijos, manteiga e outros produtos da agroindústria.
A agroecologia também é uma prática presente no colégio. Uma das disciplinas na grade curricular é Fundamentos da Agroecologia. No colégio também há um espaço destinado ao desenvolvimento de agrofloresta com diversas espécies, incluindo florestais, frutíferas, mandioca, milho, feijão, hortaliças e capim mombaça. Esse capim fica nas laterais das linhas dos cultivos para abafar. Assim a prática adotada é da roçagem e não da capinagem.
Estudantes do Colégio Agrícola manuseiam frutos e sementes de sua produção – Foto: Denise Paro
O Colégio conta com 370 alunos matriculados. 130, mulheres. E, dessas, cerca de 40 por cento no curso de Técnico em Agropecuária. São adolescentes como a Luíza, do início da reportagem, que fazem seus cursos no regime de internato. Elas são 46 atualmente.
Criado para acolher homens, o internato hoje em dia conta com uma ala exclusiva para mulheres que foi criada há 11 anos. E a procura vem aumentando, diz a pedagoga e orientadora do internato, Nádia Caon.
No total, 180 alunos moram no colégio em um condomínio no regime de internato. A prioridade é para filhos de pequenos agricultores que não residem em Foz do Iguaçu. Por isso, boa parte dos estudantes vêm de municípios da região e de cidades paraguaias. Eles ficam no colégio nos dias de aula e no final de semana vão para casa dos pais.
Para viver no internato o aluno precisa seguir algumas regras. Não pode reprovar, não ingerir bebidas alcoólicas, usar drogas ou fumar. Seguir normas e ficar longe de casa não é tarefa fácil para qualquer um. Por isso, alguns estudantes não se acostumam e acabam desistindo.
No condomínio do internato, as bandeiras do Brasil e Paraguai se misturam. Isso porque muitos dos alunos são filhos dos brasileiros que vivem no Paraguai ou até mesmo são paraguaios.
No alojamento, as bandeiras de Brasil e Paraguai indicam a singularidade da fronteira. Filhos de brasiguaios estudam no Colégio – Foto: Denise Paro
Ingressar no Colégio Agrícola não é uma tarefa tão fácil. Antes da pandemia a procura era de cerca de 400 candidatos para 100 vagas. Agora a média está em 200, mas algo é certo. Sempre tem mais candidatos que vagas.
Alguns candidatos vêm de longe. Há alunos do Pará, São Paulo e outros estados. Isso porque o colégio é conhecido nacionalmente por ter desempenho de excelência da Olimpíada Brasileira de Agropecuária. Entre 11 edições realizadas, em 10 o colégio chegou nas provas finais e este ano ficou em 1º. lugar em uma disputa com outras 900 escolas brasileiras. .
Nathalia, moradora de Santa Terezinha de Itaipu, viaja todos os dias para frequentar o colégio que escolheu por “gostar de estudos agrícolas”. Luiz, morador de Foz, filho de mecânico, não vai seguir a profissão do pai pois “quer ser agrônomo” – Fotos: Denise Paro
. O colégio também atrai muita gente de Foz e de perto que não vive no internato. Luiz Eduardo Texdorf, 15 anos, mora em Foz do Iguaçu, e foi estudar no colégio porque ama trabalho o campo. O pai é mecânico, mas ele quer seguir outro rumo. “Sempre passava aqui em frente e dizia ‘eu vou estudar aqui’”, conta. O garoto diz ter criado dois bezerros na mamadeira quer ser agrônomo.
Já Nathalia de Souza Roque, 16 anos, diz ter procurado o colégio porque quer sair do Ensino Médio com uma formação técnica. Moradora de Santa Terezinha de Itaipu, ela viaja todos os dias para assistir as aulas. Nathalia não é de uma família formada por agricultores, mas escolheu o colégio em razão do curso técnico e por gostar de estudos agrícolas.
Fundado em 1953, o Colégio Agrícola de Foz do Iguaçu é referência de qualidade na rede estadual pública de educação. – Foto: acervo do colégio
No Colégio Agrícola, os celulares não têm vez. Durante as aulas, os alunos usam o aparelho apenas com autorização do professor e ficam alocados em um local da sala. A decisão foi tomada pela direção mediante consulta aos pais, explica o diretor pedagógico Reginaldo Rodrigues Vicente. “Consultamos os pais é só nove foram contrários”, diz. Após a decisão, a concentração em sala melhorou, segundo os professores.
Em todo Paraná, existem 23 colégios agrícolas. O mais antigo está situado no município de Castro e tem 87 anos.
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