. . Quando nasci um anjo esbelto, desses que tocam trombeta, anunciou: vai carregar bandeira. Cargo muito pesado pra mulher, esta espécie ainda envergonhada. Aceito os subterfúgios que me cabem, sem precisar mentir. Não tão feia que não possa casar, acho o Rio de Janeiro uma beleza e ora sim, ora não, creio em parto sem dor. Mas, o que sinto escrevo. Cumpro a sina. Inauguro linhagens, fundo reinos — dor não é amargura. Minha tristeza não tem pedigree, já a minha vontade de alegria, sua raiz vai ao meu mil avô. Vai ser coxo na vida, é maldição pra homem. . Mulher é desdobrável. Eu sou. . . Poema integrante de Bagagem, primeiro livro editado pela autora (1976). Adélia Prado (1935 – ), nascida em Divinópolis, Minas Gerais, é uma poetisa, professora, filósofa, romancista e contista brasileira ligada ao Modernismo.
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Mulher é desdobrável. Eu sou.
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