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O Ministério da Saúde admitiu na terça-feira (11) que a variante ômicron do novo coronavírus já é predominante entre os brasileiros. Mais transmissível, a nova cepa é responsável pela explosão de casos em todo o mundo. Por aqui, não é diferente. “Infelizmente, ela já é prevalente aqui no Brasil, nós estamos assistindo ao aumento de casos”, afirmou o ministro Marcelo Queiroga.
Nesse sentido, a taxa de transmissão da covid-19 no país chegou a 1,4. Isso significa que, a cada 10 pessoas que contraem a doença, outras 14 são contaminadas. É o maior avanço no contágio desde março do ano passado, quando o país enfrentou o pico da pandemia.
De acordo com a plataforma Info Tracker, uma parceria entre USP e Unesp, esse índice deve chegar a 1,55 na próxima semana. Há diversos indícios de que a ômicron seja menos grave que as cepas anteriores. Ainda mais diante do aumento da vacinação. Ainda assim, dada a elevada capacidade de transmissão, a nova variante também é um desafio para os sistemas de saúde. (continua após o vídeo.)
O pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Leonardo Bastos explica o risco coletivo da ômicron. Ele utilizou duas cidades hipotéticas com 1 milhão de habitantes cada. Uma delas enfrentando um surto de uma doença que ele chamou de D1: menos transmissível, contagiando 5% da população. Porém mais grave, com 1% dos contaminados evoluindo para casos graves. Outra, atravessando um surto mais leve, D2, similar à ômicron, com apenas 0,5% evoluindo para casos graves. Porém mais transmissível, contaminando 20% da população.
Nesse modelo, após três meses, espera-se 50 mil infectados e 500 casos graves para a primeira cidade. Na segunda, no entanto, o total de infectados chegaria a 200 mil, com 1.000 casos graves. “É um exemplo bem simples, mas mostra que, numa primeira vista, D2 é melhor, pois a chance de evolução para caso grave é menor. No entanto, a chance de um conhecido passar por complicações aumenta (pois mais conhecidos vai se infectar)”, explicou o especialista, no Twitter.
Bastos ressalta que, “do ponto de vista populacional, há uma chance do sistema de saúde entrar em colapso por conta da combinação entre gravidade e transmissibilidade, que pode levar a muitos hospitalizados em um mesmo período”. Ele comparou ao pico da covid causado pela variante gama em Manaus, no início do ano passado, quando o sistema de saúde colapsou.
Apesar do avanço no número de casos, o ministério da Saúde adotou mais uma medida controversa. A pasta decidiu ontem (10) reduzir de dez para sete dias o período recomendado de isolamento para pacientes com covid-19. Existe ainda a possibilidade de encurtar ainda mais o tempo de isolamento. Se no quinto dia o paciente não tiver mais nenhum sintoma respiratório, não apresente febre e estiver há 24 horas sem usar medicamento antitérmico, ele pode fazer um teste rápido de covid-19. Assim, se o teste der negativo para o vírus, ele também está liberado.
No entanto, para o neurocientista Miguel Nicolelis “não faz sentido nenhum” reduzir o tempo de isolamento. Pelas redes sociais, ele afirmou que essa medida prioriza a economia, e não o bem-estar da população. Além disso, o especialista também ressaltou que os dados utilizados para definir o período de isolamento são baseados nas variantes anteriores, e não na ômicron.
Após um mês de apagão de dados no Ministério da Saúde, o Brasil registrou nas últimas 24 horas (números publicados no dia 12 de janeiro) 70.765 novos casos de covid-19. Especialistas afirmam que não é possível dimensionar o aumento de casos, em função dos dados represados do último período. No entanto, o número de novos infectados mais que dobrou em relação ao dia anterior. Por outro lado, no mesmo período, foram 147 óbitos registrados oficialmente. Ao todo, 620.238 pessoas morreram vítimas da doença, desde o início da pandemia. Os casos somam mais de 22,6 milhões (22.629.460). A coleta de dados é feita pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass).
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