Bel Rodrigues, youtuber voltada ao universo da literatura, tem mais de 950 mil inscritos em seu canal – Foto: Bel Rodrigues/Youtube
Professora do ensino médio, Diana Vieira de Oliveira Barbosa analisou em sua dissertação de mestrado o papel da comunidade booktube na difusão da literatura canônica. Ela conta que, em sua experiência como docente, um dos principais desafios enfrentados é o preconceito que muitos alunos têm contra os livros clássicos, como os de Machado de Assis, José de Alencar e Aluísio de Azevedo.
A comunidade booktube vem ganhando cada vez mais popularidade na internet. O termo se refere a quem produz conteúdo no YouTube voltado ao universo da leitura, como resenhas e indicações de livros. Esse nicho tem atraído muitos jovens e incentivado o interesse deles pela literatura – inclusive pelos clássicos.
O papel da comunidade Booktube na difusão e recepção da literatura canônica entre os jovens é o título da dissertação de Diana, defendida em novembro de 2023 no Programa de Pós-Graduação em Teoria Literária e Literatura Comparada na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.
“Uma crítica frequente que os jovens fazem na sala de aula é que livros clássicos estão ultrapassados, que eles falam de temáticas do passado que já não são relevantes nos nossos dias”, explica a pesquisadora.
Além disso, Diana notou que as metodologias utilizadas na aula afastam alguns alunos: “Pude perceber que a rejeição dos alunos por alguns livros clássicos tem mais a ver com o modo que eles são trabalhados, normalmente na escola, do que com o livro em si. Obrigar, forçar a leitura e depois cobrar uma segunda tarefa avaliativa também obrigatória em cima do que foi lido é uma forma de matar o interesse do leitor e de desconectá-lo do livro”.
Para se aproximar da realidade dos alunos, Diana organizou, com jovens de 17 a 21 anos de idade, oficinas de leitura e debates sobre os livros lidos, além de exibir vídeos da comunidade booktube. Ela verificou que esses vídeos funcionaram como um “quebra-gelo” para os estudantes, que ficaram mais à vontade para discutir sobre os livros depois da dinâmica proposta. “O intuito era indicar que todas as contribuições e opiniões eram bem-vindas”, afirma Diana. Ela acredita que essa atividade ajudou a cativar o interesse dos alunos em relação aos livros.
Diana Vieira de Oliveira Barbosa – Foto: Currículo Lattes
Embora muitos booktubers produzam conteúdos voltados a obras contemporâneas, existe um grande espaço na comunidade direcionado à literatura canônica, e isso ajuda a desconstruir os preconceitos que muitos jovens têm quanto aos clássicos.
“Muitos jovens enxergam a escola como um lugar que obriga a leitura. Eles são forçados a ler para uma prova ou outra obrigação escolar. Alguns entrevistados mencionaram que os livros clássicos que lemos na escola ‘não são bons para criar o hábito de leitura’. Outros disseram que tentaram ler na escola obras clássicas como O Cortiço e Memórias Póstumas de Brás Cubas e detestaram. Mas, quando leram novamente, instigados por um booktuber, a experiência foi completamente diferente e mais positiva, pois o booktuber fala de um jeito mais acessível, mais livre e aproxima as obras aos temas do presente”, comenta a pesquisadora.
Segundo Diana, seu estudo mostrou os efeitos positivos da comunidade booktube. “Sugeri inclusive, nas considerações finais, que essa estratégia fosse aplicada na sala de aula tradicional durante um período de tempo mais longo, pois a oficina contou apenas com dez encontros. Seria interessante observar se os efeitos positivos se manteriam ao se aplicar a estratégia por mais tempo”, conclui.
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