Atletas disputam partida de basquete sobre rodas em campo do Hospital Stoke Mandeville – Reprodução da internet
Após três semanas de Jogos Olímpicos, em que o Brasil bateu seu recorde de medalhas – ao subir ao pódio 21 vezes (7 ouros, 6 pratas e 8 bronzes) –, ficando em 12º lugar, chega a vez dos Jogos Paralímpicos, com início na próxima terça-feira (24), seguindo por duas semanas até 5 de setembro. Se os Jogos de Tóquio 2020, realizados em 2021 devido a pandemia da covid-19, já foram considerados “as Olimpíadas da superação”, o desafio é ainda maior para os paratletas, com menos visibilidade e patrocínio, enfrentando diariamente os desafios de ser uma pessoa com deficiência num país que não os enxerga como atletas.
O que conhecemos no Brasil como Olimpíadas são os Jogos Olímpicos de Verão, que acontecem em regularidade quadrienal desde 1896 – com algumas poucas interrupções, normalmente provocadas por guerras. A partir de 1924 tem início os Jogos Olímpicos de Inverno, também realizados a cada quatro anos, mas dominado por modalidades esportivas realizadas na neve – com raros atletas brasileiros e, portanto, é uma competição menos conhecida por aqui.
A comitiva brasileira chegou a Tóquio no dia 6 de agosto e teve 15 dias de preparação até a abertura oficial da competição. A delegação nacional tem 257 atletas (inclusos os treinadores, guias e atletas que auxiliam na competição). Diferente da delegação Olímpica, a Paralímpica ainda possui uma grande disparidade de gênero (161 homens e 96 mulheres). Se ainda há muita luta para o Brasil figurar entre as principais potências olímpicas, desde 2008 o país já está no “Top-10” dos Jogos Paralímpicos. Os direitos de transmissão pertencem à Rede Globo, tanto na TV aberta como na TV a cabo (canais SporTV).
Em 1948, enquanto aconteciam os Jogos Olímpicos de Verão em Londres (Reino Unido), o neurologista alemão Ludwig Guttmann – que utilizava o esporte na reabilitação física – promoveu os Jogos do Stoke Mandeville, envolvendo os pacientes do hospital de mesmo nome, em sua maioria veteranos da Segunda Guerra Mundial. Quatro anos depois, durante as Olimpíadas de Helsinki (Finlândia), uma delegação dos Países Baixos viajou para Londres para disputar os Jogos do Stoke Mandeville, sendo esta a primeira competição internacional para pessoas com deficiência.
Mas em 1960, em Roma (Itália), o evento esportivo passou a ser realizado na mesma sede dos Jogos Olímpicos. Ainda chamada de “Olimpíadas dos Portadores de Deficiência”, essa é considerada a primeira Paralimpíada da história, com delegações de 23 países, um total de 400 atletas, todos com lesão na medula espinhal. Mesmo sem ser abraçada de imediato pelo Comitê Olímpico Internacional (COI), a competição passou a ser realizada a cada quatro anos, sempre nas semanas posteriores aos Jogos Olímpicos de Verão.
Jogos de Stoke Mandeville de Roma (1960) ocorreram pela primeira vez na mesma sede das Olimpíadas / Reprodução da internet
Inicialmente a competição era restrita a pessoas com lesão na medula espinhal, mas foi gradualmente ampliada para pessoas com outras deficiências / Reprodução da internet
Também há Paralimpíadas de Inverno, disputada desde 1976. Mas o Brasil tem uma história bastante modesta nessa versão dos jogos, só tendo disputado as edições de Sóchi (2014, Rússia) e Pyeongchang (2018, Coréia do Sul), com dois e três atletas respectivamente, sem conquistar medalhas.
Atletas que disputam uma mesma modalidade têm deficiências diferentes – na perna, no braço, na medula, na coluna, deficiência visual ou poliomielite, por exemplo – e, portanto, competem provas diferentes, entre atletas com deficiências parecidas. Por isso usa-se letras. No caso da natação as categorias vão de S1 a S10 em cada tipo de nado (livre, costas e borboleta).
O Brasil não teve delegação em Roma (1960, Itália), Tóquio (1964, Japão), Tel Aviv (1968, Israel) e nem na Cidade do México (1968, México). A primeira delegação paralímpica foi a Heidelberg (1972, Alemanha), ano em que os jogos foram apenas para cadeirantes. Mas o país não conquistou medalhas. Nos Jogos de Toronto (1976, Canadá) participaram também pessoas amputadas e deficientes visuais. Nesta edição os cadeirantes Robson Sampaio e Luiz Carlos “Curtinho” conquistaram a primeira medalha paralímpica da história do Brasil: a prata no Iawn Bowls (espécie de bocha na grama). O Brasil ficou em 31º no ranking geral de medalhas. Nos Jogos de Arnhem (1980, Holanda) não trouxemos medalha.
O termo Jogos Paralímpicos só passou a ser usado em 1984, divididos entre Nova York (Estados Unidos) e Stoke Mandeville (Reino Unido). Esta edição foi mais ampla, incluindo atletas com paralisia cerebral. Foram 3.900 atletas no total, de 54 delegações. O Brasil conquistou 28 medalhas (7 ouros, 17 pratas e 4 bronzes), ficando em 24º lugar. Os ouros foram na natação, com Maria Jussara Mattos (4×50 medley, classe C6); e seis no atletismo com Márcia Malsar, Armintas Piedade (2x), Luiz Cláudio Pereira (2x) e Miracema Ferraz.
Daniel Dias (33) é o maior medalhista brasileiro na história das Paralimpíadas, com 24 pódios (14 ouros). Ele vai se aposentar após os jogos de Tóquio. / Arquivo pessoal
Tivemos boas participações em Seul (1988, Coreia do Sul), ficando em 25º lugar, com 27 medalhas (4 ouros, 9 pratas, 14 bronzes); também em Barcelona (1992, Espanha), ficando em 32º colocado, com 7 medalhas (3 ouros e 4 bronzes); fomos 37º em Atlanta (1996, EUA), com 21 medalhas (2 ouros, 6 pratas e 13 bronzes); em 24º em Sydney (2000, Austrália), com 22 medalhas (6 ouros, 10 pratas e 6 bronzes); subimos para 14º em Atenas (2004, Grécia), com 33 medalhas (14 ouros, 12 pratas e 7 bronzes).
Atenas foi a última edição dos Jogos Paralímpicos em que o Brasil ficou fora do “Top-10”, porque em Pequim (China, 2008)o país ficou em 9º, com 47 medalhas (16 ouros, 14 pratas e 17 bronzes); fomos 7º em Londres (Reino Unido, 2012), com 43 medalhas (21 ouros, 14 pratas e 8 bronzes); e 8º nos jogos do Rio de Janeiro (2016), com nada menos que 72 medalhas (14 ouros, 29 pratas e 29 bronzes). A expectativa é que em Tóquio o Brasil consiga se manter entre os 10 primeiros colocados no ranking de medalhas.
O Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) surgiu apenas em 1996. Após passar por Niterói (RJ) e Brasília (DF), hoje a sede do comitê fica no Centro de Treinamento Paralímpico Brasileiro, inaugurado em 2016, no Parque Fontes do Ipiranga, zona sul de São Paulo (SP). O centro serve como local de treinamento, mas também abriga competições nacionais e internacionais.
O CPB elegeu para a gestão 2021-2025 uma chapa formada por dois medalhistas: o presidente é o paulista Mizael Conrado, ex-atleta de Futebol de 5, eleito melhor do mundo (1998) e detentor de dois ouros paralímpicos (2004 e 2008); o vice-presidente da entidade é o alagoano Yohansson Nascimento, ganhador de seis medalhas paralímpicas em provas de velocidade do atletismo.
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