Luta por empoderamento das mulheres indígenas marcou sua trajetóriaFoto: Reprodução/Instagram
. Selecionada para o projeto internacional Mil Mulheres para o Prêmio Nobel da Paz, Eliane Lima dos Santos – mais conhecida como Eliane Potiguara, por pertencer a esse povo –, aos 71 anos, é professora, escritora, ativista e empreendedora. É a primeira indígena doutora honoris causa pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). É autora de sete livros – sendo o mais recente A Cura da Terra, voltado ao público infantojuvenil.
A família de Eliane se viu forçada a migrar do Nordeste para São Paulo. O bisavô, o guerreiro Chico Solón, já havia sido vítima de violência na Paraíba, seu estado de origem, onde morreu assassinado. “Minha família veio do nordeste por razão da violência do colonizador do plantio do algodão, em meados de 1910. Foi um processo de migração compulsória”, conta.
Em meio a esse imenso desafio, Eliane amadureceu e encontrou um grande dom: a escrita. Aos sete anos, já redigia correspondências para a avó, analfabeta, que precisava se comunicar com os parentes e amigos que ficaram na Paraíba. A mesma avó que foi a responsável por custear seus estudos. “Ela era uma empreendedora de vender bananas, chamada Maria de Lurdes de Souza, filha de Chico Solón”, lembra, cheia de orgulho.
Na adolescência Eliane já tinha uma consciência crítica forjada na história da própria família e “pelos cochichos que ouvia dos adultos” que faziam parte do círculo de amigos, como ela mesma gosta de contar. E não demorou muito a ocupar um papel de destaque na luta pelo empoderamento das mulheres indígenas. Um marco importante em sua trajetória foi a fundação da Rede GRUMIN, na Paraíba, em 1987, organização que até hoje cumpre o papel de educar e apoiar as mulheres indígenas. Dois anos depois, lançou seu primeiro livro A terra é a mãe do índio.
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Eliane já não participa de passeata, mas afirma que jamais largará a militânciaFoto: Foto: Reprodução/Instagram
. Juntos, os dois movimentos lhe garantiram reconhecimento. Porém, a projeção como figura pública também trouxe consequências inesperadas. “Os inimigos começaram a me perseguir e eu fui colocada numa lista de marcados para morrer em 1992, junto ao jornalista Caco Barcellos e um escritor do Mato Grosso. Foi uma coisa horrível e eu acabei ficando doente. Meus filhos não passaram de ano. Isso me prejudicou e nós somos prejudicados até hoje”, conta Eliane.
Ela levou o caso às Nações Unidas, em Genebra, na Suíça, para denunciar as violações dos direitos humanos. Escapou das ameaças e tornou-se conhecida mundialmente, tendo sido convidada a discursar e a contribuir com a ONU (Organização das Nações Unidas) em diversas ocasiões.
Por conta da idade e dos problemas de saúde, Eliane já não participa de passeatas e outros movimentos que exigiriam mais de seu físico, porém, afirma que jamais largará a militância. “Hoje atuo através da literatura, produzindo rodas de conversas, debates e livros sobre o viver indígena e a relação humana com o território”, diz.
Em 2022, ela pretende lançar dois livros. O primeiro, de poesias, deve sair em breve. O segundo reunirá crônicas que refletem suas histórias e experiências de vida, com lançamento previsto para o final do ano.
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