Entalhe de matriz para ilustração em xilogravura de cordel – Fotos: arquivo pessoal /
Os desafios climáticos enfrentados em 2024 desencadearam uma preocupação global com a sustentabilidade. Não é à toa que projetos como a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (COP30), que acontecerá este ano no Brasil, estão pautando o futuro do planeta. No entanto, quando se trata de transformar a mentalidade de toda uma população, a ciência pode contar com a força motriz da cultura para se propagar.
A arte, em todas as formas, é uma das principais ferramentas de sensibilização sobre questões ambientais. Dentro dessa vertente, a literatura de cordel é um recurso de resistência, reflexão e integração, historicamente responsável por contar histórias, transmitir saberes e proteger tradições.
Em um país tão vasto e multifacetado como o Brasil, onde as desigualdades sociais e geográficas ainda são imensas, o cordel tem uma capacidade única de transitar por diferentes camadas sociais e linguísticas, simplificando temas para diferentes nichos da sociedade. Segundo o estudo “Os parâmetros curriculares nacionais e as potencialidades didático-pedagógicas do cordel”, publicado pela revista Acta Scientiarum, esse estilo literário pode até ser integrado ao currículo escolar como um instrumento de promoção da educação ambiental, facilitando a compreensão de temas complexos para os estudantes.
No entanto, a literatura de cordel não atua sozinha. A xilogravura, uma arte tradicional que remonta ao século XVI, ganha uma nova camada de relevância quando inserida em debates ambientais. Criada a partir de entalhes em madeiras que servem como matrizes, a xilogravura tem um caráter duradouro e pode ser reutilizada em várias edições sem perder a eficácia. Esse processo, que por si só carrega uma simbologia de reciclagem e preservação, cai como luva para remeter à urgência ecológica.
Sendo assim, a combinação entre cordel e xilogravura, além de promover o resgate da tradição cultural, cria uma ponte para a reflexão. Quando aplicadas a temas científicos, como as descobertas sobre a Amazônia ou o bioma do Rio Negro, por exemplo, essas expressões fazem a ciência se tornar acessível e agradável, em vez de distante e impositiva. Ao contrário de uma abordagem acadêmica difícil de entender ou até desinteressante, a literatura ilustrada faz com que esses assuntos se tornem parte do cotidiano e da conversa informal.
Cintia Moreira Lima
A poesia, com rimas e métricas, tem uma capacidade única de fixar conceitos na mente de pessoas com qualquer idade, facilitando o aprendizado e a reflexão. Nesse contexto, é importante lembrar que as comunidades mais afetadas pelas mudanças climáticas são aquelas em situação de vulnerabilidade social. A pobreza, a falta de acesso à educação e a desinformação tornam essas populações ainda mais propensas a sofrer as consequências de desastres naturais e mudanças nos ecossistemas. Por isso, traduzir conhecimento científico em formatos acessíveis não é só uma questão de engajamento, mas uma necessidade de justiça social.
A literatura de cordel e a xilogravura não são apenas formas de entretenimento ou de resgate cultural, mas sim uma estratégia eficaz para a disseminação de ideias e para a formação de uma consciência ecológica. E se a arte convida as pessoas a refletirem e a aprenderem, sem impor medo ou culpa, então é dever da sociedade aproveitar essa força e levá-la a todos os cantos do Brasil, especialmente às regiões mais marginalizadas, onde as vozes de cientistas e artistas brasileiros podem fazer toda a diferença.
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