Além de ensino superior, o Assentamento Contestado possui escola municipal e estadual. – Foto: Michele Torinelli
O conceito de agroecologia ainda não era popular quando cerca de 40 famílias conquistaram o direito à terra no município paranaense da Lapa (PR), em fevereiro de 1999. A reforma agrária tornou possível a criação do Assentamento Contestado. Lá, os moradores cultivam os princípios de produção saudável e orgânica, atrelados às práticas ambientalmente sustentáveis com relações sociais justas e solidárias.
Ao longo das duas décadas de existência, a identidade agroecológica foi afirmada no território de cerca de 2,3 mil hectares de terras agricultáveis. Antes de 1999, a produção no local se restringia a milho e soja de uma única empresa, que tinha dívidas com a União. Agora são cerca de 160 famílias e dezenas de Sistemas Agroflorestais (SAFs) produzindo alimentos para a população do entorno.
A organização do Assentamento Contestado resultou na construção de estruturas com a Cooperativa Terra Livre, que junto com outros parceiros produz cerca de quatro toneladas de alimentos por mês. O Assentamento possui também a Escola Latino-americana de Agroecologia, primeira instituição de ensino superior no Brasil dedicada exclusivamente para a formação em Agroecologia.
Existem muitas histórias no Assentamento, e uma delas ganhou o mundo utilizando apenas três minutos. A agroecologia no Assentamento do Contestado está no curta-metragem “O que é agroecologia?”, no nome original “What is Agroecology”. Apesar do nome em inglês, a produção é nacional. Foi feita pelos jovens Rafael Forsetto e Kiane Assis. O curta tem nome gringo porque ele participou do Concurso Global de Vídeos da Juventude sobre Mudanças Climáticas (TVEBioMovies) 2019, promovido pela Organização das Nações Unidas (ONU). E adivinha, ganhou!
Rafael Forsetto mora em Curitiba, há 60 quilômetro do município da Lapa. Ele explica que ficou interessado em participar do concurso internacional e recebeu a dica da experiência do Contestado por meio de uma amiga. Rafael destaca que o assentamento encantou todas as pessoas envolvidas na produção, além dos organizadores da competição audiovisual.
“Acharam que o trabalho que mostramos, dos agricultores, era muito pertinente aos objetivos das Nações Unidas, ao compromisso com o meio ambiente, às mudanças climáticas e também no compromisso com a educação que a Escola Latinoamericana demonstra promovendo a educação sobre agroecologia para jovens e outros que têm interesse”, ressalta.
O vídeo possui mais de 120 mil visualizações, sendo a obra mais visualizada na história da competição. Um dos protagonistas da peça audiovisual é o assentado Antonio Capitani. Ele explica que o princípio do Assentamento é produzir e ajudar a natureza ao mesmo tempo.
“Porque nós estamos reconstruindo a nossa terra, a nossa mata, um nosso sistema, um novo jeito, porque queira ou não queira, [a Terra] está sendo destruída pela próprio homem. E o reflexo está aí com falta d’água, abelhas morrendo, mata sumindo. Temos que trabalhar a diversidade”
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