Quem é este que me olha com olhos que pareciam os meus…Na Oficina do Olhar que ministro, em uma das dinâmicas, em duplas, os participantes que não se conhecem previamente, se põem a olhar para o outro. A ideia é que ambos se assistam, tentem revelar algo acerca daquela personalidade a sua frente. Cada ponto, cada linha é importante nesta investigação. Eles relatam que a maior dificuldade é sustentar o olhar fixo por alguns minutos. Concordo! É muito incômodo estar sob a mira do outro. Muitos conseguem deduzir boa parte das características psicológicas do par.Acredito que as fotografias também deveriam falar sobre nós. E falam. A não ser que, deliberadamente ou não, as amordacemos.Com os recursos tecnológicos, softwares de edição e os tais presets, programinhas prontos que vêm nos celulares, calamos com facilidade as vozes que ecoam de nossa alma falando acerca de nós. Apagamos traços tão nossos. Aquelas ruguinhas conquistadas a tão duras penas. (Risos…)Outro dia fui procurar uma pessoa nas redes sociais. O nome estava correto, a profissão, os amigos, quase tudo batia com o que eu sabia dela. Porém, a foto, parecia de outra pessoa. Não era feia, mas também não se parecia com o original que eu conhecia. Nas artes das representações o desenho e a pintura podem ser imaginados, mas a fotografia não. Ela precisa de um original necessariamente no instante da tomada. Ou pelo menos era assim. Não se pode negar a necessidade desta presença na fotografia. Porém, esta presença agora pode ser tão modificada a ponto de não se parecer mais com o original. As novas tecnologias trouxeram a baila esta realidade e não se pode fazer muita coisa quanto a isto a não ser observar e compreender as mudanças. A pergunta é: Isto é bom ou ruim? Depende! Para uns pode ser o próprio paraíso poder controlar o jeito que se quer sair na foto. Forjar-se mais descolado, mais confiante, parece tentador. Poder tirar a própria foto sem a presença incômoda de um outro olhar, também. Afinal, na minha selfie sou o que eu quiser e ninguém tem nada com isto. As vezes, nem o próprio autofotografado. É tudo muito bom, mas… Cadê eu?
_______________________Áurea Cunha é fotógrafa, jornalista e agente cultural em Foz do Iguaçu, Pr.
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