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Desnudo, poema de Nilson Monteiro
Desnudo, poema de Nilson Monteiro
3 de janeiro de 2024
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Texto e foto, reproduzidos de perfil do autor em rede social.
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Nem o sal que lavou o Kasato Maru
e o buraco esgarçado na história
ou o som da terra dos negros e indígenas
Nem o sangue das poças do General Osório
e suas cicatrizes na biografia
ou o frio da morte e dores da tortura
Nem o hálito do barro
e seus cheiros do sofrer da Palestina
ou a fantasia da traição em Troia
Nem os desvãos do porto de Santiago
e os guinchos dos ratos no Brooklyn
ou os lanhos nas costas da África
Nem as fazendas de Faulkner
e os terreiros de mãe Menininha do Gantois
ou a malemolência da Isla Negra
Nem a paciência da Terra do Fogo
e o fio gelado da navalha
ou as paredes da jugular do ditador
Nem o cuspe do Krakatoa
e o genuflexo do Imperador
ou a vaca sacra da Índia
Nem o suor da amizade
e a lágrima de despedida
ou os braços abertos do mar de Gibraltar
Nem o levante das ondas
e a secura da Terra
ou lâmina encardida da espada
Nem o túmulo de Pompeia
e a fluidez do éter
ou o cansaço dos tempos
Nem o guizo da mentira
e o beijo menstruado da Transilvânia
ou a carícia das matas amazônicas
Nem o desmanche de Picasso
e o relógio do Palais de Justice
ou o porto engordurado de Barcelona
Nem a bússola de La Sebastiana
e o rascunho de Drummond
ou a rima distorcida das cores em Miró
Nem o berro da Revolução
e a guilhotina em galinhas
ou o pasto líquido dos mares de Magalhães
Nem a dura safira azul
e as feridas das pedras de Lautaro
ou a carne em hóstias dos cálices
Além
do bronze dos castiçais
dos cristais de seus olhos
em refluxo de certezas
em fluxo de dúvidas
que movem o mundo
Além
do farol para muitos e tantos
espelho lanhado
a navegar em brilho
revolto pelo ar
feito rastilho de fogo
feito caminho de paz
Nada espanta a tristeza
e apascenta o rebuliço
que desnuda minha alma
e a lágrima que dança
maluca e silente,
em íris,
em emoções,
em minha oração,
em meu brado,
em mim,
em nós.
Nilson Monteiro é poeta, escritor e jornalista em Curitiba, Pr.
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