Cartum da britânica Taravat Niki
. A minha garganta sustenta um sufoco que a ponta dos meus dedos teima em explanar. Todo ano eu fico com essa inquietação. Como se eu tivesse apenas esse dia pra ouvir a minha própria voz.
Tenho aprendido a esculpir espaços. Entre os afazeres da casa, os estudos, o ateliê, o cuidado das crianças, costuro todas minhas funções que desembocam em poesia.
E o que é a mulher, senão, poesia. Engana-se aquele que pré conceitua a poesia como algo para os apaixonados. Enxergo na poesia muito mais resistência do que romantismo.
É a palavra reta e clara.
Deus pode até ser representado por uma figura masculina. Mas a galáxia, essa força que atrai e rege a vida, é feminina. A mulher sustenta a vida. Do ventre aos cuidados, toda a responsabilidade nos foi transferida.
Como diz uma psicóloga que admiro muito, Manuela Xavier, hoje não é dia de ganhar flores. Hoje é dia de plantio. Lavoura sacra das ideias, semeando luta, afagando o desespero.
Quando eu luto por uma mulher, eu luto pelo mundo. Aceitar o que nos é imposto é silenciar a paz que habita em nós. Eu não sou responsável por você, eu sou responsável por mim. E isso não quer dizer que eu seja egoísta. Isso apenas quer dizer que eu retiro o seu direito deturpado de violar a minha saúde. Saúde mental. Saúde emocional.
Se, ser mulher fosse algo fácil, eu estaria celebrando. Mas não é. É algo que transpõe o sentido das palavras. Me retiro, e peço que você, mulher, faça do palco da vida, apenas a sua jornada. Eu não consegui, mas talvez minha filha consiga, e isso já traz o alívio dessa romaria perseguida.
Não se esqueça. Você é a pessoa mais importante. Não nesse dia, mas em tantos outros que somos esquecidas.
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