A alimentação saudável, composta por uma variedade de alimentos nutritivos, associada a bons hábitos, como atividades físicas, auxilia na prevenção e no tratamento de câncer (Honório Moreira / Governo do MA)
4 de fevereiro é celebrado como o Dia Mundial de Combate ao Câncer. A doença foi responsável por 9,6 milhões de mortes e 18 milhões de casos no mundo, em 2018, conforme dado mais recente da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), sendo a segunda causa principal de morte mundial. No Brasil, a projeção do Instituto Nacional de Câncer (INCA) é de que 625 mil casos novos de câncer venham a ocorrer entre 2020 e 2022.
Segundo Gulnar Azevedo e Silva, presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) e professora do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), esses números, além de ascendentes, são expressivos e podem ser explicados por um conjunto de fatores que envolvem o estilo de vida atual: má alimentação, inatividade física, tabagismo e consumo excessivo de álcool, bem como a exposição a outros fatores, como agrotóxicos e poluição. “A população acaba se expondo e isso, ao longo do tempo, acaba aumentando o número de óbitos e casos de câncer”, afirma Silva.
Assim, a má alimentação, baseada, por exemplo, em alimentos industrializados e gordurosos, pode catalisar o risco de desenvolver câncer. Isso porque as substâncias desse tipo de alimento estimulam mutações de células formando os tumores. O excesso de gordura corporal decorrente deste tipo de consumo, pode provocar alterações hormonais que estimulam a proliferação de células e inibem a morte programada das mesmas. Com isso, há maiores chances do surgimento de células cancerígenas.
Em um estudo no qual Silva é coautora, “A fração do câncer atribuível às formas de vida, infecções, ocupação e agentes ambientais no Brasil em 2020″, verificou-se que o baixo consumo de alimentos saudáveis, como frutas e vegetais, associado a outros fatores catalisadores, é responsável por 8% de determinados cânceres em homens e 6%, em mulheres, como de cavidade oral, estômago, esôfago, laringe e pulmão. De acordo com Silva, é possível evitar 42%, entre homens, e 34%, em mulheres, o número de casos de câncer se todos os fatores ligados ao risco de desenvolvimento da doença forem mitigados.
Outra causa que entra nesta conta e está diretamente relacionada à alimentação é o uso de agrotóxicos. “Não há dúvida de que profissionais que trabalham diretamente com isso e se expõem ao agrotóxico têm uma associação maior [com o desenvolvimento de câncer]. E na população, como um todo, também há risco”, afirma Silva. Na mesma linha, segundo um relatório do INCA, “estudos vêm mostrando o potencial de desenvolvimento de câncer relacionado a diversos agrotóxicos”.
Ainda assim, nos dois primeiros anos do governo de Jair Bolsonaro, cerca de 945 agrotóxicos foram liberados, sendo parte deles considerados de alta periculosidade para a saúde humana e o meio ambiente.
“Se a gente pode diminuir em quase 50% casos atuando em fatores que são preveníveis, a população deve entendê-los: o modo de vida sem tabagismo, o álcool moderadamente consumido, atividade física, alimentação e nutrição e exposição a agentes químicos”, enfatiza a presidente da ABRASCO.
Segundo especialistas, as escolhas alimentares são de extrema importância. A prioridade é para os alimentos in natura e minimamente processados, como cereais integrais, verduras, legumes, frutas e leguminosas, tais como feijão e lentilha. O recomendado é consumir 160g de frutas e 240g de verduras e legumes sem amido, como tomate, berinjela, cenoura e couve-flor, por dia.
Outra dica importante é optar pelos alimentos de base agroecológica, em cuja composição não há a presença de agrotóxicos. Vale lembrar que os resíduos de tais substâncias também estão presentes em alimentos ultraprocessados, como biscoitos, salgadinhos, pães, cereais matinais, massas, entre outros, que têm trigo, milho, cana-de-açúcar e soja entre os ingredientes.
Os alimentos açucarados, como refrigerantes, também devem ser evitados. Os refrigerantes, por exemplo, possuem uma substância chamada 4-MI (4-metil-imidazol), que é classificada como possivelmente cancerígena pela Agência Internacional para Pesquisa em Câncer (IARC), da OMS.
Importante frisar que não se deve atribuir a determinados alimentos o poder de cura de cânceres. Isto é um mito. Por outro lado, continua a ser verdadeira a premissa de que a alimentação saudável, composta por uma variedade de alimentos nutritivos, associada a bons hábitos, como atividades físicas, auxilia na prevenção e no tratamento de câncer.
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