Protagonismo das mulheres ciganas é um destaques do filme, segundo Ingrid Ramanush: “É nossa responsabilidade levar a cultura adiante” – Terra de Ciganos/Divulgação
Uma imersão na cultura cigana no Brasil por meio da música. O filme Terra de Ciganos, que estreia na próxima quinta-feira (26) no circuito nacional de cinema, é uma jornada inédita desta comunidade no país na luta pela preservação das tradições em meio ao preconceito e a integração à sociedade moderna.
“É comum uma criança desses grupos ciganos ouvir o seguinte: ‘cigano não nasce, estreia’. Porque, via de regra, todo cigano sabe tocar algum instrumento, mesmo sem ter passado por uma escola, mesmo sem ter aprendido a teoria musical”, afirma o antropólogo e pesquisador Nicolas Ramanush, diretor da Embaixada Cigana no Brasil e um dos personagens do filme.
Assista ao trailer oficial de “Terra de Ciganos”
“Esse documentário, o Terra de Ciganos, traz para o Brasil a presença do cigano no país e mostra que a importância dele dentro da cultura brasileira não é pequena”, completa Ramanush.
Destaque da edição do programa Bem Viver, do jornal Brasil de Fato, desta semana, o documentário musical acompanha famílias de músicos ciganos em estados como Alagoas, Minas Gerais e São Paulo.
“Rodamos o Brasil durante um mês, procurando comunidades que ainda moravam de barraca, que ainda dava para retratar a cultura que mantinha mais essa tradição. Nessa viagem, fui observando que muitos lugares, quase todos, tinha pessoas que cantavam e tocavam violão com muita naturalidade. E aquilo foi me instigando a tornar este filme um documentário musical”, explica o diretor do longa, Naji Sidki.
Ao lado do esposo, Nicolas, Ingrid Ramanush foi consultora e também personagem do filme. O casal foi quem ajudou o diretor Naji a encontrar as famílias ciganas ao redor do país. O que mais a emocionou foi a forma como o documentário retrata a realidade da mulher cigana.
“Isso foi um marco incrível porque nunca foi documentada a leitura de mão feita na rua. E esse é um trabalho de muita resiliência da mulher, porque a mulher cigana é a detentora da cultura. É nossa responsabilidade levar a cultura adiante, levar a cultura para os nossos filhos, para as crianças, enfim, no acampamento, todos são como se fossem os nossos filhos. E essa resiliência da mulher continua nos dias de hoje”, pontua Ingrid.
“Sair para a rua para ler a mão é uma coisa incrível, porque na rua elas são xingadas, elas são ofendidas e, mesmo assim, para manter a cultura, elas vão”, completa a artista, que almeja que o filme alcance muitas escolas e educadores.
Documentário musical percorreu diversas regiões do país documentando acampamentos e a cultura dos grupos ciganos / Terra de Ciganos/Divulgação
O Brasil é o país que abriga a terceira maior população cigana do mundo, com cerca de 800 mil pessoas, divididas em três grandes etnias: os Calon, os Rom e os Sinti.
“Existem no Brasil mais ou menos 250 mil ciganos do grupo Calon. Do nosso grupo, há apenas 100 famílias espalhadas pelo Brasil, ou seja, o que restou do Holocausto. Nós somos o que restou do Holocausto”, explica Nicolas, cigano do grupo Sinti. “Os ciganos do grupo Calon, com a graça de Deus, não foram mortos pelos nazistas. Agora, os nossos antepassados foram praticamente exterminados. Vai ser um privilégio para essas 100 famílias, que estão espalhadas pelo Brasil, ver um membro da nossa etnia participando desse documentário”, celebra.
Também conhecidos como “povo de etnia cigana”, a presença histórica dos ciganos no Brasil remonta ao período colonial, quando chegaram como parte das correntes migratórias forçadas e voluntárias. Primeiro a chegar, o grupo Calon estaria no país desde 1549, segundo registros.
“O cigano que nasceu aqui, do grupo Calon, ele é um brasileiro, isso que é importante que as pessoas entendam. É um brasileiro portador de etnia cigana, ele não é um estrangeiro aqui, ele não é um invasor, um forasteiro”, completa Nicolas.
Em agosto deste ano, o Governo Federal lançou pela primeira vez uma política diretamente voltada para a população cigana no Brasil: o Plano Nacional de Políticas para Povos Ciganos.
Entre os 10 objetivos instituídos pelo Ministério da Igualdade Racial, está o reconhecimento dos territórios e o combate ao anti ciganismo. Para Ingrid, preservar as tradições passa também pela luta contra o ódio disseminado pela extrema direita.
“A extrema direita é muito cruel com os grupos ciganos, não só aqui no Brasil, mas principalmente fora, onde os ataques são realmente muito fortes, de queimar casas de ciganos, expulsar, a violência física mesmo. No Brasil, graças a Deus, nós sofremos muito preconceito, mas, na Europa como um todo, a segregação é grande. Então, o cigano não tem direito de estudar. Ele não tem direito de ter uma casa decente. O cigano vive em guetos, principalmente no leste da Europa, e, com a ascensão da extrema direita, isso tem piorado muito, muito a situação de cada um deles”, opina Ramanush.
Terra de Ciganos teve sua estreia na competição nacional do 16° Festival Internacional do Documentário Musical, In Edit. O longa é produzido pela Veríssimo Produções e distribuído pela Pandora Filmes.
“Se você ama a cultura cigana, quer saber mais quem nós somos, quer nos conhecer, assista ao Terra de Ciganos. Com certeza você vai ouvir muita música boa, vai conhecer grupos ciganos e saber da importância da nossa presença aqui no Brasil”, convida Ingrid.
Quando e onde assistir o programa Bem Viver?
No YouTube do Brasil de Fato todo sábado às 13h30, tem programa inédito. Basta clicar aqui.
Na TVT: sábado às 13h30; com reprise domingo às 6h30 e terça-feira às 20h no canal 44.1 – sinal digital HD aberto na Grande São Paulo e canal 512 NET HD-ABC.
Na TV Brasil (EBC), sexta-feira às 6h30.
Na TVCom Maceió: sábado às 10h30, com reprise domingo às 10h, no canal 12 da NET.
Na TV Floripa: sábado às 13h30, reprises ao longo da programação, no canal 12 da NET.
Na TVU Recife: sábados às 12h30, com reprise terça-feira às 21h, no canal 40 UHF digital.
Na TVE Bahia: sábado às 12h30, com reprise quinta-feira às 7h30, no canal 30 (7.1 no aparelho) do sinal digital.
Na UnBTV: sextas-feiras às 10h30 e 16h30, em Brasília no Canal 15 da NET.
TV UFMA Maranhão: quinta-feira às 10h40, no canal aberto 16.1, Sky 316, TVN 16 e Claro 17.
No rádio, o programa Bem Viver vai ao ar de segunda a sexta-feira, das 11h às 12h, com reprise aos domingos, às 10h, na Rádio Brasil Atual. A sintonia é 98,9 FM na Grande São Paulo e 93,3 FM na Baixada Santista.
O programa também é transmitido pela Rádio Brasil de Fato, das 11h às 12h, de segunda a sexta-feira. O programa Bem Viver também está nas plataformas Spotify, Google Podcasts, iTunes, Pocket Casts e Deezer.
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