Quando o assunto é ditadura civil-militar (1964-1985), dá para afirmar que o Brasil ainda não encontrou a sua verdade. Não foram completamente abertos os arquivos secretos do regime que se fez pela força, o silêncio da censura e o horror da tortura. O resultado? Anistia a torturadores e violadores dos direitos humanos. O número de julgamentos por esses crimes foi pífio no país, mesmo comparado a processos e condenações em países vizinhos. A narrativa histórica que insiste em dizer que não houve golpe, tampouco ditadura, está mais viva do que nunca. Mas há quem não queira “virar a página” do passado sem que os devidos esclarecimentos e cobranças legais sobre fatos históricos do país sejam feitos. Jornalista, ativista dos direitos humanos e pesquisador, Aluízio Palmar é uma dessas pessoas. Ele edita em Foz do Iguaçu o portal Documentos Revelados, acervo de documentos secretos da ditadura, que está completando dez anos.
O site conta com mais de 2,5 milhões de visualizações e reúne 90 mil documentos, derivados de pesquisas feitas pelo jornalista em arquivos do Brasil e do exterior. “Criei o site, primeiramente, para depositar meu acervo pessoal, que consistia em milhares de documentos guardados em caixas e mais caixas de papelão”, rememora Aluízio Palmar. O acervo foi crescendo com o tempo. “Em parte, como fruto de minhas garimpagens pelos arquivos Brasil afora. Eu tinha uma credencial da Comissão Sobre os Mortos e Desaparecidos Políticos, e isso me ajudou muito”, revela. “Atualmente, recebo contribuições de ex-presos políticos, familiares e de pesquisadores de diversas universidades”, expõe.
O portal Documentos Revelados reúne mandados de prisão, informes, radiogramas, ofícios recebidos e expedidos, dossiês, relatórios e outros tipos de documentos. São conteúdos produzidos pelos órgãos de informação e de repressão da ditadura e pelas organizações que atuaram na resistência ao regime militar. O site ainda dispõe de reproduções de livros, cartilhas e outras publicações.
“Todos os dias chegam e-mails e mensagens de estudantes e professores da graduação, mestrado e doutorado pedindo informações e até mesmo entrevistas”, relata. “Documentos Revelados tem contribuído para a compreensão dos acontecimentos das décadas passadas e estimulado os visitantes a um compromisso ativo com a democracia”, enfatiza Aluízio. O site possui oito seções: Repressão, Resistência, Mortos e Desaparecidos, Fundos, Dissertações, Imagem, Relatórios da Comissão da Verdade e Cadernos. Cada uma delas conta com subdivisões para facilitar as pesquisas. Em Resistência, por exemplo, é possível encontrar conteúdos por organização militante, veículos de oposição à ditadura e casos de censura a meios e profissionais da imprensa.
Documentos Revelados abrange vasto material sobre Foz do Iguaçu, Oeste do Paraná, Paraguai e Argentina durante as ditaduras sul-americanas. São páginas do jornal Nosso Tempo, do qual Aluízio Palmar foi um dos editores, e documentos dos órgãos de inteligência instalados na região, inclusive de cooperação internacional.
Há materiais elaborados pelos movimentos sociais que vão da luta contra a ditadura no Brasil às mobilizações de colonos desapropriados para a criação do Lago de Itaipu, passando pela espionagem à comunidade árabe no município e na Tríplice Fronteira.A resistência contra o ditador paraguaio Alfredo Stroessner, com suas ligações de solidariedade em Foz do Iguaçu, também é amplamente relatada no portal. Greves, movimentos de contestação e a mobilização para a cidade poder eleger seu prefeito constam do acervo.
___________________________Da página H2Foz / Texto: Paulo Bogler
Assine as notícias da Guatá e receba atualizações diárias.