Foto: Reprodução/Livro Areias do Mundo
Texto: Izabel Leão e Thais H. Santos Um grão de areia, aparentemente inerte e insignificante, é na verdade um elo crucial na história da Terra. É o que revela o novo livro Areias do Mundo, de Christine Laure Marie Bourotte e Amanda Magrini, do Instituto de Geociências (IGc) da USP, que será lançado no dia 29 de outubro, às 18h, no Museu de Geociências da USP (R. do Lago, 562, Cidade Universitária, Butantã, São Paulo), com bate-papo com as autoras.
Com uma linguagem acessível e lúdica, a obra desmistifica o universo da geologia e destaca a importância desse material que está por toda parte. Ricamente ilustrada por fotografias e desenhos, tem como objetivo despertar a curiosidade científica, incentivando um olhar mais atento e sensível à natureza ao nosso redor. Segundo as autoras, a publicação representa uma “mega-avalanche de areia”, na qual “a duna avança e o deserto começa a virar oásis” no que se refere ao conhecimento sobre geociências.
A paixão da geóloga e docente-pesquisadora Christine pela coleta de areias se materializou no livro; já Amanda Magrini, artista visual também do IGc, trouxe seu olhar para as matérias-primas geológicas, sendo responsável pelo projeto gráfico da obra.
“O Projeto das Areias já tem mais de dez anos. Surgiu a partir de um projeto financiado pela Fapesp [Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo], logo que entrei como professora na EACH [Escola de Artes, Ciências e Humanidades]. A ideia sempre foi utilizar os dados da pesquisa para criar produtos voltados ao ensino e à divulgação das Geociências. Depois, fui para o IGc, e o projeto continuou a crescer”, explica Christine.
Christine Laure Marie Bourotte e Amanda Magrini, pesquisadoras do Instituto de Geociências da USP e autoras da obra – Foto: Arquivo pessoal
Ela conta que o projeto já contou com exposições itinerantes, uma coleção didática voltada ao ensino e oficinas de divulgação científica, além de um catálogo on-line e de um kit pedagógico. Também ganhou uma expografia no Museu de Geociências, e muitos alunos se envolveram nas atividades como bolsistas ou voluntários.
Como sedimentos que registram a história erosiva das áreas montanhosas de onde se originam, ao estudar as areias é possível interpretar e compreender o funcionamento do nosso planeta e reconstituir o passado da Terra” (Reprodução / Areias do Mundo)
Para a professora, a criação do livro sempre foi um objetivo. “Uma das características das Geociências é trabalhar com várias escalas — temporais e espaciais —, do micro ao macro. As reações de surpresa e encantamento que as pessoas (alunos, crianças, adultos etc.) demonstram ao observar as areias na lupa foram o que motivou tudo isso”, destaca.
Christine começou a trabalhar com Amanda no livro em 2022. “A obra é mais um produto de divulgação do projeto, voltado ao público em geral, e a ideia de ser um e-book é justamente possibilitar que ele alcance e dê acesso a um público muito mais amplo. Desde que foi disponibilizado no Portal de Livros Abertos da USP, há pouco menos de um mês, o livro já teve mais de mil downloads”, diz a professora, que busca viabilizar também uma versão impressa da publicação.
Publicação está disponível para download gratuito – Foto: Reprodução / Areias do Mundo
A professora também destaca o trabalho visual realizado por Amanda no livro. “Ela cuidou maravilhosamente bem do layout e das ilustrações. As cores foram escolhidas para dialogar com as tonalidades naturais das areias e dos ambientes onde elas podem ser encontradas. Trabalhamos muito o texto, e a seleção das fotos foi bastante trabalhosa, porque, entre as dezenas de imagens de cada amostra, procuramos escolher as mais belas e representativas”, afirma.
Amanda destacou nas redes sociais o caráter educativo da publicação. “Christine me convidou para fazer parte dessa jornada de organização deste lindo material, do qual eu contribuo como coautora. Foram quatro anos discutindo e organizando o conteúdo, que agora está disponível gratuitamente. O livro tem uma proposta didática com um rico catálogo de fotos de areias que é impossível não se encantar por cada grãozinho.”
1 – Grãos arredondados e com brilho resultam do polimento promovido pela água (fluvial e marinha) – Foto: Reprodução/Livro Areias do Mundo
2 – Grãos arredondados e foscos são típicos de areias eólicas, cujo aspecto é devido aos choques repetitivos dos grãos no ar – Foto: Reprodução/Livro Areias do Mundo
3 – Grãos de quartzo que não foram desgastados são muito angulosos, o que indica pouco transporte. São típicos de areias próximas de suas fontes – Foto: Reprodução/Livro Areias do Mundo
4 – Às vezes, as areias não são compostas somente de grãos minerais individuais, mas também de fragmentos de rochas – Foto: Reprodução/Livro Areias do Mundo
De acordo com a pesquisadora, muitas vezes foi necessário refazer as fotos das areias com a lupa. Ela explica que procuraram contemplar e exemplificar os diferentes ambientes e características, oferecendo um panorama tanto brasileiro quanto mundial. Para isso, foi preciso incluir novas amostras que ainda não faziam parte da coleção catalogada. “A maioria das fotos mais gerais também foi selecionada a partir do meu acervo pessoal, composto por imagens feitas em viagens de campo, atividades didáticas e até mesmo durante as férias. Procuramos escolher aquelas que fossem as mais didáticas possíveis”, completou Christine.
Não importa a natureza das rochas originais, um dia elas irão se transformar em areia” (Reprodução / Areias do Mundo)
Todo o trabalho, segundo a pesquisadora, é realizado com estudantes que recebem auxílio financeiro do Programa Unificado de Bolsas (PUB) da USP, destinado ao apoio à formação de alunos de graduação.
1 – A localização dos ambientes sedimentares depende do contexto geológico, topografia, clima e hidrologia da região, como nas praias – Foto: Reprodução/Livro Areias do Mundo
2 – Os desertos representam as maiores acumulações de areias nos continentes. Mas nem todas as áreas desérticas possuem grandes campos de dunas – Foto: Reprodução/Livro Areias do Mundo
3 – As areias também estão nos ambientes fluviais, onde os sedimentos se acumulam nas margens ou na parte interna de meandros, formando bancos de areia – Foto: Reprodução/Livro Areias do Mundo
Para os geólogos, a areia é um material rico em significados, abrigando diversas composições e múltiplas propriedades físicas e químicas. Longe de ser apenas um material abiótico, a areia é um habitat para vários organismos e um suporte essencial para a vida. O grão de areia é uma etapa transitória e um registro fundamental no ciclo das rochas. As rochas são formadas por minerais, e as areias são, essencialmente, grãos minerais que se originaram de suas rochas mães.
O material fosfático é oriundo de fragmentos de ossos e dentes de peixes e mamíferos marinhos. Nas areias, é também possível encontrar restos de esqueletos de crustáceos, escamas de peixe, fragmentos vegetais, sementes, ovos e larvas de insetos – Foto: Reprodução/Livro Areias do Mundo
Um fenômeno que sempre surpreende é a areia que seca debaixo dos pés quando pisamos na areia úmida. Isto é uma reação à compressão que o nosso peso exerce no material. Com o peso, os grãos se compactam e se rearranjam, expulsando a água entre os seus poros – Foto: Livro Areias do Mundo
O transporte e a formação da areia dependem de agentes naturais com diferentes níveis de energia. A água, por exemplo, é o agente de transporte mais eficiente. Se for energética e turbulenta, faz com que os sedimentos se choquem, rolem ou saltem. Em ambientes mais calmos, os grãos se movem em suspensão. As ondas do mar também misturam, selecionam e movimentam os grãos carregados pelas correntes. Junto com o vento, a água é um agente muito seletivo para o tamanho dos grãos. Já o gelo ou a gravidade geram sedimentos mais heterogêneos, com pouca ou nenhuma seleção.
Com o objetivo de fomentar estudos e atividades didáticas em Geociências, a professora Christine também criou o Projeto Areias, um acervo digital de amostras de sedimentos de diversas partes do mundo. O livro, portanto, é mais um passo para revelar a riqueza e a complexidade que um simples punhado de areia tem a nos contar sobre a história e a dinâmica do nosso planeta.
Para fazer o download gratuito do livro Areias do Mundo clique aqui.
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