. Uma coletânea de textos que apresentam múltiplos olhares sobre a moda, indo além da perspectiva mercadológica, escritos por pesquisadores das mais variadas áreas do conhecimento é a nova publicação da EDUNILA. Com o título “Museus portáteis e outras histórias da Arte-Moda”, o livro é fruto de trabalhos desenvolvidos pelo grupo de pesquisa “História da Arte e Cultura de Moda”, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e conta com capítulos que analisam a prática de vestir e suas implicações em segmentos como a fotografia, a pintura, ou até mesmo nas relações sociais e familiares, entre outros.
. Em formato digital, a publicação pode ser baixada gratuitamente na página da editora. O livro será lançado em um seminário online, com a participação dos autores nos dias 17, 18 e 19 de abril, às 18h.
.
Com cerca de 200 páginas, a obra talvez possa ser resumida por meio de uma palavra: “multiplicidade”. Esta particularidade advém, primeiramente, das áreas de formação daqueles que assinam os capítulos. São pesquisadores formados em História, Artes, Moda, Design, Antropologia, Filosofia, Literatura, Educação, Comunicação, Psicanálise e Museologia que, separadamente ou em coautoria, discutem os mais variados temas.
. Essa diversidade é notada já no grupo de organizadores do livro, encabeçado por Joana Bosak, doutora em Literatura Comparada e graduada e mestre em História, que atua na UFRGS como professora do curso de bacharelado em História da Arte; e por Ana Carolina Acom, filósofa, especialista em Moda e egressa do doutorado em Sociedade, Cultura e Fronteiras da Unioeste, campus Foz do Iguaçu. A elas se juntam Carolina Bouvie Grippa, mestra em História, Teoria e Crítica de Arte também pela UFRGS, e Paulo Gabriel Alves, mestre em História pela mesma instituição gaúcha.
. Outra particularidade que garante o caráter diverso do livro é o fato de os autores residirem em diferentes regiões da América Latina e na Europa. Essa “espacialidade transbordante”, segundo as pesquisadoras, dá dimensão à própria temática da publicação: a moda vista por meio de várias áreas do conhecimento (a chamada transdisciplinaridade), “mas sempre com um ‘pé’ na arte, seja em aproximações ou desvios”. .
. Apesar de sua publicação ocorrer em 2023, “Museus portáteis e outras histórias da Arte-Moda” é resultado de um processo que se iniciou ainda em 2015, quando um grupo também diverso se reuniu no Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. A meta: estudar aspectos da moda, pensando em torná-la “um objeto para além das noções de consumo e de produção, de blogs e de desfiles comentados”.
. Desde então, foram oito anos em que o grupo se fortaleceu, novos pesquisadores se uniram e, juntos, todos participaram de eventos e obtiveram o registro do grupo no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). “Recebemos aquelas pessoas que em algum momento de sua trajetória acadêmica se sentiram perdidas, desprestigiadas, desmerecidas. Desgarradas. Porque o campo da moda pode trazer isso consigo: o descrédito de aparentemente não ter autonomia para além do tal mercado”, escrevem as organizadoras.
. Uma prova de que esse descrédito não é procedente é o próprio livro, agora publicado, que é aberto por um capítulo em que a moda é vista como um campo de conhecimento específico e autônomo, mesmo que “atravessado por conexões e interdependências com outras áreas”. Por meio de considerações filosóficas, a pesquisadora analisa os artefatos como sendo símbolos da perenidade humana, fazendo com que sua reflexão extrapole os limites da moda e observe a vida e a permanência fora do corpo. .
Peças da coleção de Heloísa Annes; fonte – Vera Felippi
. Integra ainda a obra uma análise de como uma joia se torna “de família”, ao passar de uma geração para outra, constituindo “dinastias afetivas”. A este capítulo se junta o que é resultante de uma pesquisa que resgata a “Roupa de baixo na História da Moda” em que, a partir da história do sutiã (ou soutien), a autora dialoga com as percepções de gênero e de identidade ao examinar as roupas de baixo como formas de transformação corporal ao comprimir e moldar os corpos das mulheres, alterando simbolicamente o que é ser mulher ao longo do tempo.
. A questão da mulher, que permeia todo o livro, também está presente em um capítulo que apresenta um estudo ainda inicial que articula negritude, os estudos decoloniais – que buscam, grosso modo, se basear em estudiosos latino-americanos – e as novas possibilidades da escrita da História da Arte. Para isso, a autora analisa as obras da artista plástica gaúcha Maria Lidia Magliani (1946-2012) e Pamela Zorn (1998-), uma pintora recém-formada.
. Em resumo, são 18 capítulos que vão além do lugar-comum dedicado à moda e a observam como forma de compreender o passado e os dias atuais, através de “artefatos culturais, do ponto de vista da arte e da sensibilidade humana”.
. Em tempo: o título “museus portáteis” deve-se ao fato de a roupa, entre as artes e os ofícios, ser uma manifestação que se carrega, que se leva às ruas, casas portáteis que abrigam, contam narrativas, são matérias históricas e estéticas, e, muitas vezes, transformam-se em objetos de museu. .
. Já disponível no catálogo da EDUNILA, “Museus portáteis e outras histórias da Arte-Moda” será lançado em um seminário on-line, com a participação dos autores, em 17, 18 e 19 de abril, às 18h. Mais informações sobre inscrições na página do grupo. Está previsto ainda um lançamento no 18º Colóquio de Moda (Unifor), em Fortaleza, que acontece de 20 a 23 de setembro deste ano.
Assine as notícias da Guatá e receba atualizações diárias.