El Viaje
Mi primer viaje fue el del exilio quince días de mar sin parar
Nadie te despidió en el puerto de partida nadie te esperaba en el puerto de llegada Y las hojas de papel en blanco enmoheciendo volviéndose amarillas en la maleta maceradas por el agua de los mares
Desde entonces tengo el trauma del viajero si me quedo en la ciudad me angustio si me voy tengo miedo de no poder volver Tiemblo antes de hacer una maleta -cuánto pesa lo imprescindible- A veces preferiría marcharme El espacio me angustia como a los gatos Partir es siempre partirse en dos.
A viagem
Minha primeira viagem foi a do exílio quinze dias de mar sem parar o mar constante o mar antigo o mar contínuo o mar, o mal Quinze dias de água sem luzes de neon sem ruas sem calçadas sem cidades somente a luz de algum barco em fuga Quinze dias de mar e incerteza não sabia aonde ia não conhecia o porto de destino só sabia aquilo que deixava Como bagagem uma mala cheia de papéis e de angústia os papéis para escrever a angústia para viver com ela companheira amiga
Ninguém se despediu de ti no porto de partida ninguém te esperava no porto da chegada E as folhas de papel em branco mofando tornando-se amarelas na mala maceradas pela água dos mares
Desde então tenho o trauma do viajante se fico na cidade me angustio se parto tenho medo de não poder voltar Tremo antes de arrumar uma mala — quanto pesa o imprescindível— Às vezes preferiria não ir a nenhuma parte Às vezes preferiria seguir em frente O espaço me angustia tal como aos gatos Partir é sempre partir-se em dois.
(Tradução: Pedro Gonzaga)
Assine as notícias da Guatá e receba atualizações diárias.