Durante o bate-papo, Elisa Lucinda fala também sobre escrita, poesia, rap e racismo. E destaca como a vida a espanta. “A minha primeira paixão foi a poesia. O que eu escrevo é o produto do impacto com o meu olhar com o real. Tudo sempre me chamou a atenção. Principalmente as cores”, salienta. Assista o programa: https://tvbrasil.ebc.com.br/trilhadeletras . Mudança de carreira e novidades A convidada conta episódios curiosos de sua formação e recorda passagens marcantes como a entrevista que fez com Elba Ramalho. “É um ponto fundamental na minha história, uma esquina, uma encruzilhada boa”. Foi um momento decisivo em sua trajetória ao deixar o jornalismo e investir na carreira artística. “Eu não quero mais dar a notícia. Eu quero ser a notícia”, pensou na época. Na animada conversa, Elisa Lucinda explica para Eliana Alves Cruz as novidades de Parem de falar mal da rotina. Escrito a partir do monólogo que apresenta há mais de 20 anos nos palcos brasileiros, o livro acaba de ganhar uma reedição. A artista comenta sobre escrever para ser lida em voz alta. No Trilha de Letras, a autora inclusive lê um trecho da sua obra “Quem me leva para passear”. A publicação foi finalista do Prêmio Jabuti 2022 na categoria “Romance de Entretenimento”. Elisa Lucinda aborda a capacidade de rever conceitos: “Nós temos que nos reconstruir” – Foto: TV Brasil Sobre seu processo criativo, o diálogo é fértil. “Pode acontecer a qualquer momento. Estou sempre disponível para uma ideia que vem. Escrevo não necessariamente para publicar, mas para entender o que está acontecendo, para traduzir. Amo escrever. Não é nenhum sacrifício. Gosto muito de escrever em primeira pessoa”, relata. Elisa Lucinda revela seus novos projetos. “Agora estou escrevendo um romance e um livro de poesia. E vou publicar um, que já está pronto, ‘Diário do Vento'”, antecipa a artista que abre o coração: “O que resume minha literatura, música, teatro, novela… Tudo que fiz e faço da vida é para proteger a minha liberdade que é inegociável e a minha criança”, sintetiza. “Temos que nos reconstruir” Em sua participação no programa Trilha de Letras, Elisa Lucinda aborda a capacidade de rever conceitos. “Nós temos que nos reconstruir. Todos nós. É libertador dizer que a gente pode aprender a ver de outra maneira”. A entrevistada comenta a importância da palavra. “O funk e o rap são expressões dos até então invisíveis. Trazem notícias das desigualdades e um olhar de um outro ângulo para quem está do outro lado. Além disso, é uma grande vitória contra as armas. É a vitória do verbo contra a violência”, define. “Ser dono da palavra é uma grande revolução natural”. Elisa Lucinda pondera sobre a importância de se discutir a definição de literatura e assumir as manifestações orais como o slam. “As meninas produzindo suas letras, os grandes grupos de slam que existem no país inteiro representam uma revitalização imensa da nossa língua e da nossa quilombagem”, sugere. Ausência de negros nas telas e na literatura Elisa Lucinda é enfática ao traçar um panorama sobre a solidão de atrizes e escritoras negras estarem ‘sozinhas’ no que ela e a apresentadora Eliana Alves Cruz chamaram de cenário desértico. “É uma solidão que me exigiu muita obstinação e muito foco na esperança. Era muita opressão emocional”, reconhece. A entrevistada reforça a crítica. “Nós todos sabíamos que era um preto por elenco e olhe lá. Nós fomos alijados. Havia uma mudez dos nossos colegas. Assistiram aquela exclusão ou ninguém reparava que aquilo era Brasil e não tinha preto em elenco nenhum?”, declara. A análise demonstra como os profissionais tinham receio de sofrer retaliações. “A gente ficava muito solitário. Quando sofria racismo dentro de uma produção, sozinha de preto, você ficava com medo de falar e ainda perder essa única oportunidade. Era uma solidão amplificada por dentro. É muito sério”. A atriz reflete sobre essa mudança de paradigma que abriu portas para as novas gerações de profissionais. Sobre a seleção de elenco, Elisa Lucinda rememora a restrição na escolha de personagens para pessoas negras. “Era muito restrito. Se tinha uma dona de pousada, uma banqueira, uma médica. O preto não era pensado. Diziam para mim: ‘Elisa, infelizmente, não tem seu perfil. Não tem papel para você’. Isso durou tanto tempo que sacrificou muita gente, muitas trajetórias. Muitos amigos nossos morreram de depressão, por falta de convite, falta de respeito.” Clique aqui para saber como sintonizar a programação da TV Brasil. De Agência Brasil