Rua XV de novembro, centro de Curitiba, década de 60 – Imagem: reprodução
. Em novembro de 1964 foi editada a Lei 4464, a denominada Lei Suplicy, que regulava a organização das entidades estudantis baixo a Ditadura Militar. Em lugar da União Paranaense dos Estudantes -UPE a Ditadura propunha o DEE. Em 1965 a direita estudantil lança logo o candidato. Como nós não reconhecíamos essa entidade surgiu o dilema em lançar ou não candidato. Em uma mesa da Confeitaria Iguaçu localizada no início da Xavier da Silva ao lado da Praça Osório, sorvendo um chopinho estávamos eu, Roberto Requião e Fábio Campana. Ali tomamos a decisão. Campanha de voto nulo! E o texto já foi sendo elaborado: Ficou mais ou menos assim: “Caros Estudantes! Abaixo a Ditadura! Vote para presidente do DEE no Hassan, o camelo do Passeio Público. Dentro da fauna zoológica sempre soubemos que o camelo foi mais útil que o gorila. “ Vote nulo ! O resultado foi estrondoso! Mais de dois terços dos votos foram para o Hassan ! O DEE foi um natimorto !
[29/5 09:32] Vitorio: Métodos de Pichação.
Até o início de 1966 nossos instrumentos de pichação eram muito rudimentares. Lembro do Fábio Campana contar como entravam nos cemitérios e raspavam as velas derretidas de cima dos túmulos. Depois eram derretidas com o acréscimo de piche. Eram feitos canudos de uns 30 a 40 cm/s onde se derramava essa mistura de resto de vela derretida com piche. Com isso se obtinha um bastão para pichação.
Mas no ano de 1966 soubemos de uma novidade. E fomos eu e Fábio Campana comprar o spray de tinta em uma loja localizado a Praça Carlos Gomes. Comprado o novo instrumento de pichação fomos imediatamente às vias de fato. O primeiro local disponível na praça Carlos Gomes foi uma banca de Jornais e Revistas. O abaixo a Ditadura agora tinha a versão em várias cores. O dono da banca chamava-se Pedro Lauro. Ficou brabo? Qual nada! Pegou a ideia e passou a pichar a cidade com mensagens e sempre com seu nome Pedro Lauro.
Lhe picou a mosca azul e se filiou ao MDB. E passou a escrever em todos os muros de Curitiba: Abertura de Cassinos. Pedro Lauro. Em 1974 ao se compor a lista de candidatos lá entrou o nome de Pedro Lauro como candidato da Deputado Federal. O MDB recebeu um tsunami de votos. Álvaro Dias o mais votado com 275 mil votos. Da Arena para se eleger a linha de corte foi 24 mil votos e no MDB quatro se elegeram com menos de 6 mil votos:
Adriano Valente ARENA 24.036 – São Paulo, São Paulo. Minoro Miyamoto ARENA 23.995 – Promissão, São Paulo. Pedro Lauro MDB 6.119 – Mallet, Paraná. Osvaldo Buskei MDB 4.058 – Três Barras, Santa Catarina. Gamaliel Galvão MDB 3.060 – São Luís, Maranhão. Expedito Zanotti MDB 2.673 – São Roque, São Paulo.
Teríamos eu e o Fábio Campana despertado uma vocação para a política no Pedro Lauro com o uso experimental com as novas técnicas de pichar Abaixo a Ditadura ou foi mera coincidência?
. [29/5/2021 09:33] Vitorio: Faleceu Fabio Campana.
Sede da UPE, União Paranaense dos Estudantes, fechada pela ditadura militar, em 1964 (Imagem: reprodução)
O homem é o processo dos seus atos. Era o dia 14 de março de 1967. No dia seguinte assumia a Presidência da República o Ditador de Plantão Costa e Silva. A noite eu e Fabio fomos até a Faculdade de Filosofia Católica, ao lado do Teatro Guaíra, imprimir os pequenos panfletos, chamados mosquitinhos. No dia seguinte tínhamos que entrega-los pela manhã em 16 locais onde outros estudantes em pares iriam panfletar a cidade dizendo que nada iria mudar e que a Ditadura continuava.
Mas o mimeógrafo tinha um defeito. E esse problema levou a que terminássemos a impressão lá pelas duas horas da manhã, já no dia 15. Resolvemos então ficar no bar do Nei que ficava a Rua XV perto da sede histórica da UFPR, pois não daria mais para irmos dormir e voltar aos pontos de distribuição. Chegado o horário fomos aos três pontos mais próximos e não encontramos ninguém. Fomos aos dois seguintes e também ninguém. Mais um e ninguém. Decidimos voltar ao bar e pensar. Logo tivemos notícia da prisão de dois deles. Concluímos que todos haviam sido presos e estávamos certos.
Pedimos um saco de gelo no bar e seguimos entrando nos edifícios mais altos da cidade onde em uma janela colocávamos um punhado dos panfletos e o gelo em cima. Com isso pudemos colocar os panfletos no alto de vários edifícios. Depois o sol derreteu os gelo e secou os panfletos e, em seguida, o subversivo vento panfletou a cidade. E nos dois já dormindo. A noitinha encontramos vários dos estudantes que faltaram os pontos. Todos haviam sido presos e levados ao quartel do exército no Boqueirão. Lá passaram o dia. Mas apesar de todo o esforço para evitarem a panfletagem não contavam com o imprevisto e não lembraram de prender o vento.
Essa é uma de nossas passagens nos anos 60 que marcaram a história do movimento estudantil que juntos fizemos parte. Memória eterna!
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