– Um conto de Marcio Renato dos Santos –
O plano era enviar a carta antes de entrar no trabalho. Então, dois senhores, por causa do benefício da idade avançada, são atendidos com prioridade. Anderson tem vinte minutos pra despachar a correspondência. Uma mulher, com mais de sessenta anos, entra na agência e também é atendida antes dele. Anderson confere o horário e pensa que, se aparecer mais um idoso, tudo pode atrasar. Outras pessoas iriam entrar na agência — pelo menos, dez ou vinte, pouco mais novas, pouco mais velhas que Anderson, naquela manhã, com quarenta e cinco anos. Essas dez ou vinte pessoas, alguns homens, outras mulheres, ficaram atrás dele na fila. Outros, idosos, também chegaram e foram atendidos antes de Anderson e daqueles que não tinham carteira de idoso ou mais de sessenta anos. Então, após ficar em pé durante trinta, quarenta minutos, caminha até uma cadeira, e senta. Não lembra de ter retirado senha. Talvez, pensa, já não faz diferença perder a vez. Suspira. Fecha, abre os olhos e tem a impressão de não estar na agência do correio. Há caixas eletrônicos, escadas rolantes, parece um banco. Sentado, Anderson se dá conta de que já deve ter passado o horário de entrar no trabalho e, como não encontra o celular, não pode avisar os colegas. Mas, lembra, adiantou tarefas e, portanto, mesmo presente, não teria o que fazer no escritório.
Marcio Renato dos Santos é jornalista e escritor em Curitiba, Pr. Conto publicado no livro Finalmente hoje (Tulipas Negras, 2016). Reproduzido do blog do autor: http://minda-au.blogspot.com.br/
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