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IX Encontro Nacional de Estudantes Indígenas reuniu mais de duas mil pessoas entre os dias 26 e 29 de julho, na Unicamp, segundo a organização do evento – Sofia B.H.Lisboa/ Divulgação Enei.
Estudantes indígenas de graduação e pós-graduação passam a contar com uma organização representativa para a discussão de pautas relacionadas à educação superior. A criação da União Plurinacional dos Estudantes Indígenas (Upei) foi um dos encaminhamentos do IX Encontro Nacional dos Estudantes Indígenas (Enei), realizado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), entre os dias 26 e 29 de julho.
A entidade ainda está em processo de formalização. Em entrevista ao programa Bem Viver desta sexta-feira (05), da Rádio Brasil de Fato, o presidente da Upei e coordenador geral do IX Enei, Arlindo Baré, destaca que a entidade será a principal representante dos universitários indígenas, a fim de cobrar espaços nos debates sobre a educação e na tomada de decisões acerca do tema.
“A gente pensa em realmente formalizar, para que possamos ter um endereço de como discutir daqui pra frente e cobrar aqueles espaços que consideramos nossos de direito”, afirma .
A Upei, segundo Baré, ultrapassa os muros das universidades e se constitui como um projeto político que busca, também, provocar o debate sobre a diversidade dos povos que fazem parte do Brasil.
“Nasce um projeto político para provocar, para debater. A gente vai defender, sim, que o Estado reconheça que existe uma pluridiversidade, uma pluricultura, uma plurinacionalidade dentro da nação brasileira”, reforça Baré.
Um dos eixos discutidos no Enei deste ano foi a permanência dos estudantes indígenas nas universidades. Apesar da expansão do número de vagas, a evasão ainda é um dos desafios a serem superados e que envolve diversos fatores, conforme aponta Baré, que também é estudante de engenharia elétrica na Unicamp.
“Eu gosto de falar da tríade território, saúde e educação. É muito difícil a gente estudar, se manter ou vivenciar a universidade pensando que nos nossos territórios tem invasores, garimpo. É muito difícil dividir ou então separar saúde, território e educação. Eles estão realmente muito entrelaçados e são decisivos para a nossa permanência na universidade.”
A inserção de estudantes indígenas no debate sobre educação é considerada essencial por Arlindo Baré para a transformação desse cenário. Ele ressalta que, antes, é necessário olhar para o ensino básico.
É muito difícil a gente vivenciar a universidade pensando que nos nossos territórios tem invasores
. “Eu faço engenharia elétrica e sinto na pele como não cheguei preparado para enfrentar tudo isso. E a gente sente muito esse impacto. Por isso, discutimos muito a nossa permanência, que seja pensada numa lógica que a gente participe desse debate, que seja pensado de uma ótica que a gente consiga falar para a universidade que o nosso tempo e espaço é diferente da lógica eurocêntrica”, afirma.
A promessa de criação de um Ministério dos Povos Indígenas também é vista com otimismo pelo presidente da União Plurinacional dos Estudantes Indígenas. O compromisso foi firmado pelo candidato à Presidência pelo PT, Luiz Inácio Lula da Silva, que lidera as pesquisas de intenção de votos.
“Esse Ministério abre uma porta grande. É por isso que a gente está se organizando agora com a União Plurinacional dos Estudantes Indígenas para realmente cobrar uma cadeira no MEC [Ministério da Educação], nas instâncias deliberativas, nas instâncias que tomam decisões sobre nosso contexto, para não ficarmos nas periferias dos debates”, finaliza.
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