De H2Foz / Por Paulo Bogler Nove estudantes negros de medicina formaram um grupo de trabalho acadêmico para combater atitudes e expressões racistas na fronteira. Futuros médicos explicam que termos como “coisa tá preta”, “denegrir” e “doméstica” podem afetar a saúde mental das pessoas.
Esses e outros termos, assim como algumas práticas racistas, são catalisadores para desencadear transtornos de personalidade em pessoas que sofrem diariamente essa forma de violência. Alunos usaram o tradicional jaleco branco junto com panos da capulana, que são estampas coloridas que remetem à vestimenta de alguns países africanos.
O curso de Medicina e o ambiente médico são, em geral, espaços prioritariamente ocupados por pessoas brancas. Em relação às expressões apontadas pelos acadêmicos para serem evitadas, elas revelam o racismo enraizado, isto é, o racismo estrutural na sociedade.
“A consequência disso é, por exemplo, que as pessoas negras não têm as mesmas oportunidades no mercado de trabalho que o branco”, explicou a aluna de medicina Bianca Oliveira. Ele revelou já ter recebido o pedido de colegas de classe e de professores para amarrar o cabelo, com o argumento de que estava atrapalhando.
O universitário Renan Gouvêa enfatizou a importância do coletivo atuando dentro de uma instituição de ensino superior e na comunidade fronteiriça. “Ter um grupo negro numa faculdade de medicina é histórico. Os grupos formados são sempre majoritário branco. Sempre foi assim. Mudamos essa, digamos, lógica”, expressou.
Durante a apresentação acadêmica sobre paranoia, os alunos negros mostraram que o comportamento da sociedade faz a pessoa negra ser perseguida quando entra em lojas de grife. E isso não é uma “paranoia de perseguição”, é uma atitude racista.
Os alunos de medicina realizaram a apresentação do trabalho oral em maio de 2024, que é o calendário cristão. “E mesmo assim, infelizmente, estamos falando de racismo quando não deveria existir nos dias de hoje”, comentou Bianca.
Os estudantes do grupo negro pedem para que seja evitado o uso de frases como “inhaca”, “meia-tigela” e “fazer pelas coxas”, entre outras expressões racistas.
Usada para referir-se a algo sem valor ou medíocre, no entanto, a expressão surgiu há muito tempo, envolvendo o sofrimento dos negros que trabalhavam à força nas minas de ouro e nem sempre conseguiam alcançar suas “metas”. A punição nesses casos era receber apenas metade da tigela de comida, além de ser apelidados de “meia-tigela”. Em vez disso, pode-se dizer simplesmente “sem valor”.
A expressão “feito nas coxas” é usada para indicar algo feito de maneira apressada e descuidada. Embora sua origem não seja objetiva, algumas teorias a associam ao trabalho escravizado, o que perpetua uma ideia racista. Mas essa origem racista não é totalmente aceita, e alguns estudiosos a contestam. Apesar disso, é aconselhável substituir essa expressão por termos como “feito de maneira apressada” ou “feito sem cuidado”.
É uma expressão que sintetiza uma série de frases racistas associando negativamente as pessoas negras a situações difíceis. Ela é usada para descrever problemas complexos ou situações ruins. É importante substituí-la por frases como “a situação está difícil”, para evitar o uso de linguagem racista.
De origem latina, a palavra “denegrir” significa “enegrecer”, mas seu uso atual está associado a manchar ou sujar algo. Essa associação cria a ideia de que tornar algo negro é negativo, e isso precisa ser evitado, reforçando o preconceito de ligar pessoas negras a coisas ruins. Além disso, quando algo é “denegrido”, a expressão implica que precisa ser limpo ou corrigido, o que perpetua o viés racista. Portanto, é aconselhável abandonar o uso dessa palavra e optar por alternativas como “difamar” ou “caluniar”.
Pessoas pretas eram tratadas como animais que precisavam de “corretivos”, ser “domesticadas”. O termo surgiu no século 16, quando as escravas eram “domesticadas” por meio de tortura.
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