Darcy Ribeiro e o sertanista João Carvalho conversando com indígenas Urubu Ka’apor – – Foto: Arquivo MI
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O antropólogo Darcy Ribeiro estudou diversas comunidades indígenas entre o final dos anos 1940 e 1950, período em que atuava como etnólogo do Serviço de Proteção aos Índios (SPI). O registro dessa observação e convivência com indígenas de diferentes etnias foi realizado não apenas em cadernos de campo, mas também por meio de fotografias, que complementavam suas anotações.
Todo esse material foi depositado no Serviço de Proteção aos Índios e posteriormente passou a integrar o acervo do Museu do Índio (MI), órgão científico-cultural da Fundação Nacional do Índio (Funai), que, em 1967, sucedeu o SPI. São mais de dois mil negativos que ficaram misturados a outros materiais e foram encontrados por acaso pelo antropólogo e fotógrafo Milton Guran, em agosto de 2010, quando fazia uma pesquisa para montagem da exposição “Primeiros contatos – Atrações e pacificações”.
. A descoberta acabou rendendo uma nova exposição, também com curadoria de Guran. A mostra O olhar precioso de Darcy, foi realizada, entre 23 de novembro e 30 de dezembro de 2010, na Caixa Cultural no Rio de Janeiro, exibindo 50 fotos selecionadas de três etnias: Kadiwéu, Ofayé e os Urubu-Ka´apor.
Em matéria publicada pelo jornal O Globo, em 2010, Milton Guran contou que se encantou com o material encontrado. Segundo ele, as imagens vão além do mero registro visual, comum aos trabalhos etnográficos. Ele diz que, ao fotografar, o antropólogo misturava os ânimos da descoberta científica e da experiência humana que os encontros interculturais possibilitam.
“Fotografava para entrar em contato e produzir uma memória desse encontro. Sua fotografia superou o registro descritivo e adentrou pelo mundo da imaginação. Em suas imagens a impressão que temos é que Darcy se deu ao luxo de agir como um flâneur, como se fora um turista acidental a cultivar relações e recolher lembranças. São fotografias diretas, cândidas, retratos na sua maioria bem resolvidas”, descreve no catálogo da exposição.
Mulher Kadiwéu idosa chamada Anoã com pintura facial (MS/1947) – Foto: Darcy Ribeiro, MI
. Em homenagem ao centenário de nascimento de Darcy Ribeiro, primeiro diretor do MI, a mostra O olhar precioso de Darcy foi reeditada e lançada pelo museu na plataforma Google Arts & Culture, em novembro de 2022.
A mostra virtual foi dividida em quatro partes: a primeira é uma apresentação, seguida das mostras dos Kadiwéu, dos Ofayé e dos Urubu-Ka´apor. Além das fotografias selecionadas, a mostra é ilustrada com grafismos Kadiwéu e arte Urubu Ka’apor; trechos de correspondências do antropólogo com o SPI; áudios de Darcy e cantos indígenas registrados por ele em campo; e trecho do clássico filme Os Índios Urubu – A Vida Diária Numa Aldeia Indígena da Floresta Tropical, filmado por Heinz Foerthmann, com texto do antropólogo.
As fotos, em preto-e-branco, retratam cenas do cotidiano das aldeias, tatuagens faciais de personagens diversos, rituais e anotações visuais.
De acordo com Guran, a mostra é “um rico painel da dimensão humana desses povos no qual se destaca a relação fraternal, intensa, que ligava o antropólogo ao seu objeto, enriquecendo, com isso, os princípios da pesquisa antropológica”.
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