Era uma madrugada de quinta-feira e Rosa não conseguia dormir. Seu corpo virava de um lado para o outro na cama e nada dela adormecer. Tudo tinha sido intenso demais e ela, acostumada a não receber esse tipo de afeto, não parava de pensar em tudo o que tinha acontecido. Tempos atrás, Rosa tinha ido à um terreiro de Umbanda e lhe disseram que ela precisava parar de afastar todos os “pernas de calças” que apareciam em seu caminho, que ela precisava deixar o amor fazer morada. Rosa ficara sem jeito, sorriu desengonçadamente e acenou positivamente com a cabeça como quem diz “sim senhor”, mas Rosa era complicada. Pelo menos em relação ao amor… Rosa sempre teve dificuldades de se relacionar com as pessoas, principalmente quando a afetividade ultrapassava o campo das amizades. Ela até achava bonito quem amava desesperadamente, deliberadamente, alucinadamente, exageradamente… mas ela não. Ela não conseguia sentir assim e achava que esse tipo de coisa, de sentimento, não era para ela. Ela até tentou algumas coisas, mas o máximo que foi capaz de sentir foi um ventinho na nuca, um sussurro no ouvido, um friozinho na espinha. Ela era exatamente como todas as mulheres da sua família e desde sempre aprendeu que a luta pela subsistência, que manter-se forte, firme, atenta era mais importante que o amor. Assim, ela aprendera que suas necessidades individuais, de amar, por exemplo, não eram tão importantes quanto a luta por ajudar a manter sua família, com pouca ou nenhuma representação masculina, de pé. Existindo, resistindo.
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