Os participantes do Fórum emitiram um documento final do evento, onde listam as principais questões debatidas – Foto: divulgação
De Guatá / Por Denise Paro Realizado nos dias 11 e 12 de abril em Ciudad de Este, o V Fórum Social e Popular da Tríplice Fronteira reuniu organizações camponesas, indígenas, sindicais, de direitos humanos, de mulheres, de crianças, de estudantes, de educadores e de bairros populares
No documento final que resume a síntese do evento, os participantes destacaram preocupações relacionadas ao avanço de uso de agrotóxicos, desmatamento de árvores nativas; ao mesmo tempo que defende a democratização dos meios de comunicação e fortalecimento de meios alternativos para revalorização das identidades populares e ancestrais, bem como a busca por memória, verdade e justiça entre outras questões.
O evento também firmou apoio à campanha “Onde Está Lichita? que busca localizar Lichita Villalba, uma adolescente de 14 anos, filha de líderes da resistência camponesa no Paraguai. Lichita foi sequestrada por um destacamento da Força Tarefa Conjunta (FTC), das forças armadas paraguaias em uma operação que também resultou na morte de outras duas crianças de 11 anos, María e Lilian Mariana.
Após dois dias de debates, os participantes fizeram uma síntese das reivindicações em uma declaração. Leia o documento em sua íntegra:
Imagem: Captura de Tela
DECLARAÇÃO DO V FÓRUM SOCIAL E POPULAR DA TRÍPLICE FRONTEIRA
As organizações populares reunidas no V Fórum Social e Popular da Tríplice Fronteira nos posicionamos em favor da integração regional a partir dos povos organizados e de suas lutas, em solidariedade com as lutas cotidianas das maiorias trabalhadoras. Compreendemos essas lutas como um enfrentamento ao imperialismo, especialmente quando vários de nossos governos apresentam elementos fascistas e ditatoriais, estando atrelados a esse mesmo imperialismo.
Somos organizações camponesas, indígenas, sindicais, de direitos humanos, de mulheres, de crianças, de estudantes, de educadores e de bairros populares. Somos um grupo intergeracional, com lutadores e lutadoras de todas as idades. Todas e todos em igualdade. Esse fato nos enche de alegria e nos oferece uma riqueza de experiências para o debate.
Nos preocupam as políticas que promovem o retrocesso dos espaços estatais de apoio às maiorias populares e a consequente perda de direitos, com a cumplicidade dos três poderes. Queremos insistir na reparação histórica que deve ser feita pelas represas hidrelétricas às comunidades indígenas e camponesas; é imprescindível a consciência sobre as dificuldades trazidas pelas mudanças climáticas. Diante dos modelos extrativistas que enfrentamos, preocupa-nos a perda de soberania; o avanço do uso de agrotóxicos; a contaminação dos cursos d’água, da terra e dos ecossistemas de áreas alagadas; o desmatamento de árvores nativas e a substituição por espécies exóticas; nos opomos à mercantilização e monopolização das sementes e das terras. Esses processos derivam da forte penetração e do avanço avassalador do modelo agrário empresarial sobre os espaços do modelo camponês popular e sobre os territórios indígenas e seus saberes. Por isso, reafirmamos a atualidade e a necessidade urgente da reforma agrária integral e popular; da recuperação do valor das sementes e do cuidado com seu manejo e troca por parte das comunidades.
Afirmamos a necessidade da democratização da comunicação, do fortalecimento dos meios alternativos e comunitários que mostrem as realidades e as lutas dos nossos povos. Somente por meio dessa comunicação haverá uma revalorização das nossas identidades populares e ancestrais, bem como da nossa busca por memória, verdade e justiça. Nos preocupa a violência estrutural expressa no aumento da repressão às manifestações populares, na judicialização de membros das comunidades e de lideranças; persegue-se nosso povo pobre: indígenas, camponeses, crianças, mulheres.
Nos preocupa o retorno de práticas ditatoriais nos despejos de comunidades camponesas, indígenas e periféricas; a existência de presos políticos; e as condições dos sistemas penitenciários. Defendemos que a participação protagonista de crianças, adolescentes, jovens e mulheres em espaços de tomada de decisão é fundamental para a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva. Aderimos à Campanha “Onde está Lichita?”, assim como às campanhas de solidariedade com os povos da Palestina, Venezuela, Cuba, Haiti e Peru.
Propomos realizar ações dentro de uma agenda comum, para que possamos nos apoiar mutuamente em cada uma de nossas lutas. Unidas, nossas lutas se fortalecem.
Ciudad del Este, 12 de abril de 2025. V FÓRUM SOCIAL E POPULAR DA TRÍPLICE FRONTEIRA
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