Com 13 anos, Edson de Carvalho começou a pôr no papel suas primeiras impressões sobre o mundo. Mais especificamente, o jovem escritor passou a retratar o cotidiano da periferia de Foz do Iguaçu, a região do Porto Meira, na área Sul da cidade.Hoje, o autor iguaçuense tem onze livros escritos, de romance e poesia. Ele compartilha suas obras gratuitamente no formato PDF pela internet e as divulga pelas redes sociais, para que todas as pessoas possam ter acesso e conhecer sua escrita.Para arcar com o custo da impressão de sua sexta publicação, a trilogia “Líricas e Satíricas do Iguaçu – parte III”, Edson acaba de lançar uma vaquinha virtual na internet. Pretende arrecadar R$ 10 mil, a partir de doações individuais de qualquer valor. Clique aqui para acessar.Seu repertório para o mundo ficcional foi sendo recolhido na realidade. Dura realidade. Na fronteira, ainda adolescente, Edson de Carvalho precisou trabalhar para ajudar a família. Foi engraxate, vendedor de torrone – doce à base de amendoim – e de laranja na Ponte da Amizade, carpiu lotes, encarou a construção civil e foi arte-educador.
Há cerca de dez anos deixou Foz do Iguaçu e foi morar na região de Curitiba. “Saí por causa da dificuldade, falta de oportunidade”, resume. Para viver, “faz de tudo” profissionalmente, pois há cinco anos o professor não consegue obter aulas para lecionar como PSS nas escolas do estado, já que seu diploma de Letras foi roubado e o escritor não tem dinheiro para a segunda via.Sobre o trabalho de lapidar a linguagem e converter a realidade em livros, Edson explica que fez suas primeiras composições a partir da observação do seu território. “Comecei a escrever observando a dificuldade minha e do povo da periferia. Fui registrando em versos e pequenas prosas”, revela.
“Sabemos que é difícil produzir livros, mesmo assim continuamos a escrever”
O escritor, que tem 37 anos e foi alfabetizado na Escola Municipal Cecília Meireles, no Porto Meira, rememora que quando começou a escrever versos e poemas teve de superar muitas resistências. “Foi frustrante, o pessoal próximo dizia que literatura não vale nada”, relembra.Para Edson, atualmente os desafios são de outra ordem. O público lê pouco – e menos ainda os chamados escritores locais –, faltam recursos financeiros e apoio para a publicação das obras. “Sabemos que é difícil produzir livros, mesmo assim continuamos a escrever”, relata.O único livro impresso de Edson de Carvalho é de 2007, que é a primeira parte de “Líricas e Satíricas”. Foi pago pelo Centro Universitário UDC, instituição em que o artista das palavras fez a graduação.
O escritor fez palestra gratuita na Feira do Livro de Foz do Iguaçu abordando “A literatura na pós-modernidade”.Para além da pauta do debate a que foi convidado, talvez a maior mensagem que Edson pode levar à feira é a sua experiência de ser escritor diante de tantas dificuldades.Sua trajetória e persistência em continuar a escrever devem servir de reflexão, especialmente entre gestores, sobre o quanto ainda é preciso ser feito para a efetivação de políticas públicas que garantam às pessoas o direito a consumir e produzir cultura.
Momentos INo final da madrugada Está quase clareando o dia Barulhos dos galos, canto. No centro da periferia Porta aberta, janela aberta. Alicate no chão Artesanato em construção Coberta, lençol e colchão. Garrafas de bebidas Discurso entre famílias Sem fundamentos, brigas. Honestidades vão trabalhar Baladores dormem Ideologias em convenções(Poema publicado em “Carreiros do Iguaçu – o Contrabando”, de Edson de Carvalho).
_______________________________Paulo Bogler / H2Foz
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