Raul Torres (mais alto), o responsável por trazer a guarânia do Paraguai para o Brasil, e Florencio, seu parceiro
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A tradicional música sertaneja brasileira, a chamada música raiz, da moda de viola, teve grande influência de um ritmo genuinamente paraguaio: a guarânia. É o que mostra esta reportagem musical de Norma Odara, para a Rádio Brasil de Fato, em 2019:
. A pesquisadora, compositora, cantora e professora paraguaia Mônica Elizetche explica um pouco sobre as origens do gênero: “A guarânia foi criada pelo músico José Asunción Flores, no final da década de 20. E também teve uma influência muito forte na poética, um poeta muito conhecido no Paraguai que chama Manuel Guerrero, que juntos fizeram aquela guarânia “Índia”, tão conhecida no mundo inteiro e aqui no Brasil ainda mais”.
Elizetche fala sobre os temas recorrentes das guarânias paraguaias, o mote da canção: “a guarânia traz consigo uma questão mais elaborada nas melodias, na harmonia, então ela levanta toda essa questão do romantismo, da questão social. No Paraguai tem muitas guarânias que falam de inundação, de ribeirinhos”.
Ouvinte da música caipira desde os 12 anos de idade, o pesquisador, escritor e radialista Maikel Monteiro buscava referências e recortes de jornais e revistas e fuçava na discoteca da rádio Chapecó atrás de registros da música caipira e sertaneja.
Maikel explica como a guarânia veio parar no Brasil e fincou raízes: “quando Raul Torres e o Nhô Pai estiveram no Paraguai, finalzinho dos anos 1930, 1939, 1940, nesta época, depois eles fizeram outras viagens, lá eles conheceram a guarânia, mas a guarânia tocada na harpa paraguaia, com acompanhamento do violão. Então, foram duas coisas que eles trouxeram para o Brasil, primeiro o ritmo. E a outra contribuição foi quando eles ouviram guarânia no Paraguai, na harpa paraguaia, com o violão fazendo acompanhamento. Pela semelhança sonora da harpa com a viola, eles pensaram: de repente a gente pode fazer o casamento, como o caipira fala, do violão com a viola. Então, eles trazem para o Brasil o violão”, conta o radialista.
“José Fortuna, para deixar mais característico ainda, começou a pegar músicas paraguaias, fazer versões em português e lançar aqui no Brasil. Aí, a guarânia que alcançou maior sucesso foi a guarânia índia, gravada por Cascatinha e Inhana. É uma letra paraguaia, mas numa versão de José Fortuna”, continua.
Além de Cascatinha e Inhana, que alcançaram mais de meio milhão de exemplares vendidos com seus discos, num país que possuía apenas 300 mil vitrolas, outros nomes importantes da música sertaneja levaram adiante a influência da guarânia. Podemos citar as Irmãs Castro, Irmãs Galvão, Nhô Pai e Nhô Fio e os criadores do pagode de viola, Tião Carreiro e Pardinho.
. “A guarânia vai tendo as derivações, na parte técnica ela é uma música em três tempos, só que uma música lenta. Aqui no Brasil, ela começa a ter variações como o rasqueado, por exemplo, que é também em três tempos, só que numa pegada mais rápida e rasqueado, porque você rasqueia os dedos pelas cordas da viola, então vira um rasqueado”, explica o pesquisador.
“De lá para cá, a guarânia incorporou na música caipira assim como a moda de viola, assim como a toada, como o cururu. É muito comum você considerar a guarânia um ritmo da música sertaneja nascido no Brasil, mas ela veio do Paraguai”, conclui.
O ritmo paraguaio de tamanha importância para a música popular sul americana tenta o registro na Unesco de Patrimônio Imaterial da Humanidade.”
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