Capa do livro sobre Guerra do Paraguai – Imagem: reprodução
“[…] em 1º de maio de 1865, assinou-se o Tratado da Tríplice Aliança entre a Argentina, o Brasil e o Uruguai, este ocupado por tropas de D. Pedro II. As forças ganharam assim volume, porém sobretudo com o recrutamento em massa decretado no Rio de Janeiro. A população brasileira correu aos quartéis impulsionada pela quimera da nacionalidade, à diferença dos conflitos platinos anteriores que arregimentaram mercenários. Agora eram pernambucanos, baianos, fluminenses, paulistas e gaúchos confraternizados em defesa de uma comunidade integrada – e em razão das oportunidades abertas com o decreto que formou os corpos de Voluntários da Pátria. Prometeram-se gratificações, pensões, empregos públicos em regime preferencial e terras públicas em colônias militares e agrícolas, conformando assim, somado à Guarda Nacional, um universo de mais de 150 mil combatentes.”
O trecho acima está no capítulo “Resenha Histórica”, escrito por Rodrigo Goyena Soares, professor de História do Brasil do Departamento de História da USP e, entre outras atribuições, pesquisador-residente da Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin (BBM), onde se dedica ao estudo da Bacia do Prata no século 19. Faz parte do livro Estudo Bibliográfico Comentado da Guerra do Paraguai, de Sinésio de Siqueira Filho, um cartapácio de 784 páginas editado pelas Publicações BBM, que será lançado no próximo dia 20, às 14h, no seminário Pesquisas sobre a Guerra do Paraguai e na Bacia do Prata na BBM, no auditório da própria BBM. Após os textos introdutórios à obra, o livro apresenta uma relação extensíssima de publicações sobre o conflito, com informações básicas sobre cada uma e um curto resumo sobre seu conteúdo.
Foto: Isabela Gotsfritz/ BBM-USP
A Guerra do Paraguai, em que o país então presidido por Francisco Solano López teve como adversários Brasil, Argentina e Uruguai reunidos na Tríplice Aliança, ocorreu de 1864 a 1870. Filho do presidente anterior do Paraguai, Carlos Antonio López, Solano, educado na Europa, admirador de Napoleão Bonaparte, tinha a ambição de ganhar espaço comercial e influência na América do Sul.
Um de seus objetivos era ter acesso ao porto de Montevidéu para agilizar o comércio de seu país com a Europa. A obstaculização desse acesso pela Argentina e a interferência do Brasil no governo uruguaio, derrubando, militarmente, uma administração pró-Paraguai, foram fatores decisivos para que Solano Lopes declarasse guerra contra os dois. Na sequência, invadiu o Mato Grosso, no Brasil – Estado, que à época, era atingido apenas por via fluvial a partir da Bacia do Rio da Prata, que corre entre a Argentina e o Uruguai, depois de acolher as águas dos rios Paraná, Uruguai e Paraguai. A Tríplice Aliança contra o Paraguai nasceu em função dessas iniciativas militares de Solano López.
Imagem extraída do livro Estudo Bibliográfico Comentado da Guerra do Paraguai / Publicações BBM
“Durante décadas, o ex-consultor de empresas Sinésio de Siqueira Filho colecionou documentos sobre a guerra da Tríplice Aliança (Brasil, Argentina e Uruguai) contra o Paraguai (1864-1870). Às vésperas do aniversário de 160 anos desse que é o maior conflito armado da América Latina, Siqueira Filho vendeu o arquivo visando à sua conservação. A coleção foi adquirida por um anônimo e doada à USP. Em outubro, os milhares de documentos chegaram à Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin (BBM) da USP”, escreveu, no começo do ano passado, a então estagiária do Jornal da USP Alicia Matsuda, na reportagem Exposição de livros raros lembra os 160 anos da Guerra do Paraguai (disponível aqui).
O conteúdo então exposto na Biblioteca Mindlin foi transplantado e enriquecido para a publicação do livro que agora está sendo lançado e passará a oferecer uma nova forma de alcance ao rico material doado, que relata o andamento do grande conflito armado sul-americano em que o Brasil se envolveu, ainda no seu período imperial.
Na abertura da sua “Resenha Histórica”, Rodrigo Goyena Soares dimensiona a importância do conflito: “A década de 1860 foi particularmente sombria no continente americano. Entre os conflitos mais mortíferos do século XIX, a Guerra do Paraguai (1864-1870) – também conhecida como a Guerra da Tríplice Aliança ou Guerra Guaçu – resultou em quase 550 mil baixas no Prata, quase tanto quanto a Guerra da Secessão (1861-1865) nos Estados Unidos, com pouco mais de 700 mil. Descontados os conflitos não contínuos, como as Guerras Napoleônicas (1803-1815), na Europa, ou a Rebelião Taiping (1860-1864), na China, somente a revolta dos Cipaios (1857), na Índia, superou os números americanos. Tamanha carnificina ao norte e ao sul do Rio Grande, muito mais do que sugerir uma exceção em escala global, expressou quão espinhosos foram os processos de formação dos Estados nacionais na América”.
Alexandre Macchione Saes e Hélio de Seixas Guimarães, diretores da BBM, reconhecem e elogiam os esforços de Sinésio de Siqueira Filho na compilação da história dos países da Bacia do Prata: “Este livro […] é a síntese de décadas de garimpagem, estudo e convívio com fontes primárias sobre a Guerra do Paraguai. Um roteiro único sobre a temática cuidadosamente constituído por Sinésio de Siqueira Filho que abarca diversas dimensões e versões sobre o conflito. Uma bibliografia completa e com comentários úteis tanto para jovens a experientes pesquisadores como para leitores interessados no assunto. E, mais impressionante, parte expressiva dos itens indicados na bibliografia está hoje catalogada na Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin da Universidade de São Paulo”.
Estudo Bibliográfico Comentado da Guerra do Paraguai, de Sinésio de Siqueira Filho, Publicações BBM, 784 páginas.
O livro será lançado nesta quarta-feira, dia 20, às 14 horas, na Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin (BBM) da USP (Rua da Biblioteca, 21, Cidade Universitária, em São Paulo). Entrada grátis. Não é preciso fazer inscrição.
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