Henfil: “O humor que vale para mim é aquele que dá um soco no fígado de quem oprime” – Foto: Reprodução
Da Página do MST / Por Fernanda Alcântara No dia 5 de fevereiro de 2024, Henrique de Souza Filho, conhecido como Henfil, teria completado 8 décadas se ainda estivesse vivo. Um artista cuja caneta era sua principal arma e dançava nos limites do riso e da crítica social. A luta de Henfil permanece até hoje, mesmo após mais de 30 anos de sua partida, como melodia de esperança equilibrista, um eco de resistência que transcende o tempo.
Ainda que sejam pelos seus 80 anos, é sempre muito bom rever as obras do mineiro que encontrou na arte do cartum sua voz rebelde, capaz de criar diálogos potentes e provocativos com a sociedade ao seu redor. Com traços ousados e humor afiado, ele desafiou as convenções, transformando suas criações em manifestos visuais de uma busca incansável por justiça e igualdade.
No palco das folhas de papel, Henfil desenhava uma realidade em que a sátira era a espada afiada que combatia a opressão. Seus personagens, como os icônicos Fradins e Graúna, tornaram-se testemunhas de uma era turbulenta, refletindo as contradições de um Brasil em transformação. A caneta de Henfil não era apenas uma ferramenta de expressão; era um grito de liberdade em meio à censura e à repressão política.
Como todo ser vivo, ele tinha suas contradições, mas sua mente voava entre a tinta, os rabiscos, as palavras e tudo o que pudesse provocar, indagar, fazer refletir. Talvez por isso, alguns acreditam, que a ditadura e sua censura burra muitas vezes deixaram ele escapar.
Era, acima de tudo, um apaixonado pelo país. Viajou o Brasil e o mundo e nada era tabu, já problematizava o machismo, a opressão às mulheres, aos homossexuais e o preconceito contra idosos e doentes mentais, ao mesmo tempo em que, discutia as relações autoritárias e violentas da ditadura (1964-1985), a fome e os direitos dos trabalhadores. Em sua obra, desenhos contemporâneos falam de poder popular, capacidade de atuação e as múltiplas tensões que marcaram o país.
O artista não apenas retratou a realidade; ele a desafiou, incitando à reflexão e à ação. A luta política era a essência pulsante de sua obra. Em tempos de trevas, Henfil foi uma luz que brilhou com a esperança equilibrista. Sua visão era um convite para acreditar na possibilidade de um mundo mais justo, onde os sonhos não sucumbem à dureza da realidade. Em meio ao caos, ele nos lembrava da importância de manter o equilíbrio entre o riso e a resistência, entre a crítica e a compaixão.
Henfil partiu em 1988, no que muitos artistas chamaram de o último tiro da ditadura. Muitos de seus contemporâneos acreditam que, hoje, ele talvez seria um dos mais atuantes na internet, dada sua incansável vontade de brincar com os meios e multimídias. Mas seu legado permanece como um farol, iluminando os caminhos daqueles que ousam sonhar com um futuro mais humano. Sua arte, impregnada de coragem e compaixão, continua a desafiar as sombras do ódio e do conservadorismo, convidando-nos a nos tornarmos equilibristas em nossa própria busca por um mundo melhor.
Que a esperança equilibrista de Henfil inspire gerações presentes e futuras, a levantar as bandeiras da justiça, da liberdade e da solidariedade.
Viva Henfil!
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