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. Há histórias que surgem apenas de um aceno, uma única conversa. Histórias breves que se criam e se nutrem numa lembrança boa, exigindo espaço na memória. Sebastiana Ferreira foi assim.
Eu a vi uma vez só, relativizando sua importância com palavras econômicas. Em 2004, ela dava uma entrevista à fotojornalista Áurea Cunha, que pesquisava personagens para sua exposição “Todas as Cores do Mundo”. Sebastiana, com 90 anos à época, nascida em Foz do Iguaçu, tornou-se a brasileira nata da coleção que reúne, através de retratos femininos, a diversidade étnica da cidade.
Sua sinceridade pausada, sem pressa, ao responder à curiosidade da entrevistadora sobre como era a vida de uma mulher na tríplice fronteira no século passado, ensinou-me um pouco mais sobre a dignidade dos que povoaram de perseverança as ruas e trilhas destas paragens em tempos de isolamento e trabalho duro. Filha de lavadeira argentina e peão gaúcho, Sebastiana foi babá, cozinheira e ajudou a seu marido, o nordestino José Vicente Ferreira, administrar uma pensão.
Depois, por intermédio de outras pessoas também fiquei sabendo da sua dedicação aos trabalhos filantrópicos da Sociedade Espírita Paz Amor e Caridade, organizada por José Vicente.
A velhinha Sebastiana, que enxerguei tardiamente, passou, sim, pela vida como uma estrela. Uma dessas luzes, lapidada pelo silêncio do anonimato, e que volta e meia brilha ao cruzar com a gente.
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