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Colonos marcharam pela Avenida Brasil nos anos 1980 por indenização justa para suas terras – foto: Joel Petrovski/Reprodução/Documentos Revelados
. Por Paulo Bogler / H2Foz .
. Agente político que interferiu em boa parte dos fatos que traz à luz da memória pública, desde 1967, quando chegou à cidade, Palmar deu entrevista durante o programa Marco Zero sobre passado, presente e futuro de Foz do Iguaçu, que celebra 109 anos neste sábado, 10. O professor José Afonso de Oliveira e o matemático Luiz Carlos Kossar completam a série especial. .
. Desembarcou na fronteira com “uma mala de couro imensa de grande”, resgata, e ideais ainda maiores, que fitavam a derrubada do regime civil-militar (1964–1985) e a construção de uma sociedade baseada na igualdade. Desde então, procurou entender e retratar a cidade além da oficialidade. . Nos anos 1980, levou esse olhar já às primeiras edições do Nosso Tempo, jornal que criou juntamente com os jornalistas Adelino de Souza e Juvêncio Mazzarollo. “Quis sair do corriqueiro, pois a imprensa entrevistava sempre as mesmas pessoas, tinha as mesmas fontes”, explica. Essa iniciativa o levou, de início, a Sadi Vidal. . “Homem de muitas histórias, que foi presidente da Câmara e morou na Rua Tiradentes, perto da casa de Harry Schinke, em que morreu o cientista Moisés Bertoni”, cita. “O Sadi Vidal me atiçou a pesquisar a história dessa cidade mais a fundo”, declara. . Foz do Iguaçu tem muitas histórias e fatos importantes que precisam ser contados, reivindica. “Por que a cidade esconde o ‘comprismo’ [ciclo de compra de mercadorias no Paraguai], por exemplo? E o processo de urbanização que violentou direitos humanos e a natureza?”, completa.
Aluízio Palmar no Marco Zero, em série especial sobre os 109 anos de Foz do Iguaçu – foto: Alexandre Palmar
. Conforme Palmar, havia muita confusão sobre a história da Coluna Prestes, o que o motivou a pesquisá-la. Tenentistas derrotados em São Paulo vieram para o Paraná, confrontando as tropas governistas em Catanduvas, no Oeste, e novas derrotas. O objetivo era recuar para a Argentina ou o Paraguai. . “Foi quando chegou em Foz do Iguaçu o grupo de militares vindo do Rio Grande do Sul, a cavalo, atravessando o Parque Nacional do Iguaçu, comandados pelo capitão Luís Carlos Prestes”, expõe. Gaúchos e paulistas, então, mantêm reunião em uma casa na Avenida Brasil, perto da hoje Casas Pernambucanas, relata. . “Consultei várias fontes, escritos de militares e livros de autores que escreveram sobre o tenentismo”, explica Aluízio. “Parte dos paulistas aderiu às ideias de Prestes de marchar pelo Brasil. A Coluna Prestes, como ficou conhecida depois, surgiu em Foz e percorreu 25 mil quilômetros. Um fato histórico importante”, frisa. .
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. Antes da formação do lago de Itaipu, nos anos 1970–1980, Itaipu negociava a desapropriação de áreas rurais para formação do reservatório da hidrelétrica, que inclusive deixou duas cidades submersas na região, Itacorá e Alvorada do Iguaçu. O preço ofertado aos colonos não era satisfatório, dando início a grandes assembleias. . Os agricultores ficavam acampados semanas, com rádio própria e cozinha comunitária. Sem acordo com a Itaipu, decidiram fazer uma marcha para Foz do Iguaçu, saindo de Santa Helena. “Veio engrossando e quando chegou na BR-277 já era muita gente”, pontua. Na rodovia, quase houve confronto. . “Então, foi decidido não avançar até o Centro Executivo. Os agricultores ficaram acampados, por semanas, no trevo de acesso à Vila A. Enquanto negociavam, parte da cidade ficou solidária”, realça Aluízio. O que não houve foi apoio da binacional e da prefeitura, cobra. . “A marcha dos colonos na Avenida Brasil foi uma das muitas realizadas enquanto havia o acampamento e as negociações”, lembra. “Foi imensa, percorreu a avenida de ponta a ponta, reivindicando preço justo para a terra desapropriada para a construção da usina”, destaca. .
. Por ser considerada área de segurança nacional, Foz do Iguaçu não tinha o direito de eleger o próprio prefeito, que era nomeado pelos militares. Foi o regime dos interventores, que não dava espaço para as forças políticas na administração nem para a disputa do governo, e a Câmara de Vereadores era cerceada. . “Cada vez que um vereador usava a tribuna para reclamar ou protestar, ou ainda falar de corrupção no governo, as atas eram enviadas pelo presidente da Câmara para o Serviço Nacional de Informação”, informa Aluízio. Assim, empresários e agentes políticos descontentes passaram a apoiar o Nosso Tempo, que era um jornal de oposição ao regime. . O eleitor iguaçuense recuperou o direito de votar para prefeito em 1985. No pleito, foi eleito Dobrandino Gustavo da Silva, do antigo MDB, apoiado por diferentes espectros políticos e ideológicos, por ser uma legenda que se opunha ao regime fardado. .
. Em seu trabalho de memória, Aluízio Palmar edita o site Documentos Revelados, que reúne vasta documentação sobre a ditadura militar no Brasil, no estado e na fronteira trinacional. É resultado de anos de pesquisa em arquivos e outras fontes. O portal é consultado principalmente por pesquisadores, historiadores, professores e jornalistas, tendo registrado cerca de 500 mil acessos em um mês.
Acesse em: documentosrevelados.com.br .
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