Curiosamente, os dois lados das Cataratas do Iguaçu enfrentam projetos que, se aprovados, podem interferir na flora, na fauna e até – do lado brasileiro – no título que o Parque Nacional detém, de Patrimônio Mundial da Humanidade, concedido pela Unesco. Na Argentina, a polêmica é em relação ao projeto apresentado pelo governo que possibilita a criação de “vilas turísticas” dentro do Parque Nacional Iguazú, com glampins (camping glamourizado), setores de apoio, restaurantes, passeios, etc, etc. Isso, vale repetir, dentro das áreas protegidas do parque. A intenção do governo, claro, é arrecadar mais com o turismo. Mas, mesmo pro morador de Puerto Iguazú que quer mais turistas, o projeto não interessa. Quem vai pra tal vila turística não precisará nem passar perto dos restaurantes e serviços oferecidos pela cidade. A bronca maior, claro, é dos ambientalistas. Tinha havido um recuo do governo, mas nos bastidores o projeto continua avançando, segundo os participantes do grupo “No a la Villa Turística”. Em Puerto Iguazú, há grupos mobilizados.
No Brasil, querem ressuscitar a Estrada do Colono. Deputados paranaenses (não todos) e até um senador são favoráveis ao projeto que reabre o trecho de 17,6 km da PR-495, que liga Serranópolis do Iguaçu a Capanema. Este trecho é que ganhou o “apelido” de Estrada do Colono. Não se ganha um titulo de Patrimônio da Humanidade assim à toa. Pra manter o título, garantia da vinda de milhares de turistas mais esclarecidos (do exterior, especialmente), tem que preservar como está. Em 1999, quando forçaram a reabertura da Estrada do Colono, a Unesco chegou a declarar o Parque Nacional do Iguaçu como Patrimônio Mundial em Perigo. Em 2001, com o fechamento definitivo daquele trecho, o parque saiu da lista perigosa. Mas não apenas os ambientalistas devem se movimentar para evitar que o projeto de reabertura, em tramitação na Câmara, seja aprovado. O setor turístico deveria ser o mais interessado, porque a estrada não vai aumentar o movimento de visitantes – ao contrário, esta notícia pode afugentar muitos – nem vai tornar o Brasil mais respeitado internacionalmente. Para atender o interesse de poucos – traduza-se esse interesse por cifrões -, o Brasil poderá entrar na lista de países que não respeitam a natureza, que é exatamente (a natureza exuberante) o maior atrativo do Brasil. Isso dito por quem entende de dinheiro. O Fórum Econômico Mundial aponta que o interesse dos turistas é cada vez maior em turismo sustentável, ecoturismo, natureza, sol e praia. “Rico em biodiversidade, reservas de água doce, com um litoral extenso e florestas preservadas, o Brasil é o país mais competitivo do mundo em recursos naturais”, diz o Fórum Econômico Mundial. Voltaremos ao tema.
____________________________Da página H2Foz
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