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Fotomontagem com imagens de Marcos Santos/USP Imagens, Reprodução/Brasiliana Iconográfica e Wikimedia Commons
. Com cerca de 2,5 mil obras históricas, entre aquarelas, pinturas, desenhos e gravuras, a Brasiliana Iconográfica – uma plataforma virtual que reúne acervos da Biblioteca Nacional, do Instituto Moreira Salles, do Itaú Cultural e da Pinacoteca de São Paulo – acaba de receber um conjunto de cerca de 200 imagens da Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin (BBM) da USP. O acordo firmado entre o portal e a BBM pretende ampliar o público da plataforma, estreitando os vínculos com a academia.
Inicialmente, contemplando peças que datam predominantemente dos séculos 18 e 19, o portal ganha um novo recorte com a chegada da BBM – uma das mais importantes coleções brasilianas do País – e passa a incluir a iconografia produzida nos séculos 16 e 17, entre registros originais e únicos, como aquarelas, desenhos e pinturas a óleo, até gravuras de circulação avulsa ou ilustrações de profissionais ou amadores do Brasil e do exterior, em especial a produção atribuída aos “artistas viajantes”. Inseridas no portal, as imagens do acervo da BBM ganham acessibilidade no display digital de alta definição, com recurso de zoom que exibe cada obra em detalhes e informa origem, temas, histórias e ficha catalográfica. Além disso, os trabalhos de cada autor também recebem links diretamente ao seu verbete na Enciclopédia Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras.
. Para o diretor da BBM, Alexandre Macchione Saes, a iniciativa é uma grande oportunidade para que a Biblioteca Brasiliana da USP possa partilhar de um projeto relevante e reconhecido. Segundo ele, o projeto Brasiliana Iconográfica foi lançado há cerca de cinco anos, por meio do esforço de quatro instituições nacionais com relevantes acervos iconográficos. “Naquela oportunidade, o professor Carlos Zeron, então diretor da Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin da USP, já estava em contato com as instituições responsáveis pelo projeto. Com um acervo de obras de períodos anteriores ao século 19, a BBM tinha grande potencial de integrar o projeto, oferecendo imagens originais. Foi assim que a USP passou a integrar tão relevante projeto, agora numa segunda fase, de ampliação dos recortes cronológicos”, relata. “É uma incrível oportunidade para a BBM, que poderá compartilhar um projeto que se tornou uma referência para pesquisadores do Brasil e do mundo”, acrescenta.
Entre as imagens da BBM que passam a integrar a Brasiliana Iconográfica, o principal destaque é a narrativa do viajante alemão Hans Staden (1525-1576), que viveu no Brasil por oito anos e foi capturado pelos indígenas Tupinambá, que o mantiveram cativo durante nove meses. Em liberdade, retornou à sua terra natal em 1554, onde publicou A Verdadeira História dos Selvagens, Nus e Ferozes Devoradores de Homens, Encontrados no Novo Mundo, a América (Warhaftig Historia und beschreibung eyner Landtschafft der Wilden, Nacketen, Grimmigen Menschfresser Leuthen, in der Newenwelt America gelegen). O registro, que inclui dezenas de ilustrações, é uma das primeiras e mais detalhadas descrições dos povos tupis da costa brasileira e traz, em especial, ilustrações que representam o ritual antropofágico praticado pelos tupinambás.
Xilogravuras de “A verdadeira história dos selvagens, nus e ferozes devoradores de homens, encontrados no Novo Mundo, a América”, do autor Hans Staden – Fotos: Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin (BBM)
Xilogravura de Descrição da penosa viagem feita ao redor do universo ou globo terrestre, do autor Olivier van Noort – Foto: Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin (BBM)
Xilogravura de O novo e desconhecido Mundo, do autor Arnoldus Montanus – Foto: Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin (BBM)
Há também xilogravuras da fauna e flora do Brasil do século 16, retiradas do livro As Singularidades da França Antártica (Les Singularitez de la France Antarctique), de 1558, escrito pelo missionário franciscano francês André Thevet e produzido durante sua estadia de três meses na baía de Guanabara, então colônia francesa, registrando plantas, como abacaxi, batata-doce e mandioca, e animais, como tucano e preguiça, além dos tupinambás que habitavam a região. A indumentária do século 16 aparece na coletânea Antologia sobre a Diversidade de Vestimentas que Estão Atualmente em Uso nos Países da Europa, Ásia, África e Ilhas Selvagens (Recueil de la diversité des habits, qui sont de présent en usage, tant ès pays d’Europe, Asie, Afrique & isles sauvages), de autoria do francês François Desprez. O livro, que data de 1567, apresenta vestimentas de diversas partes do mundo, incluindo ilustrações de um casal de indígenas do Brasil claramente inspiradas nas do livro de Thevet.
Também figuram entre os destaques dois relatos de holandeses ao redor do mundo, com ênfase no Brasil: Descrição da Penosa Viagem Feita ao Redor do Universo ou Globo Terrestre (Description du pénible voyage fait entour de l’univers ou globe terrestre), do navegador e pirata Olivier van Noort, que liderou uma viagem no final do século 16, narrando um confronto entre sua esquadra e os portugueses na baía de Guanabara; e O Novo e Desconhecido Mundo (De Nieuwe en Onbekende Weereld), obra mais famosa de Arnoldus Montanus, publicada em 1671, com quase 200 páginas sobre o Brasil, ilustradas com 15 imagens.
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