Foto: Divulgação / Equipe Bem Viver
A formação abrange desde aulas práticas de conhecimentos aplicados, como o uso de alternativas para o controle de pragas, com misturas naturais ou com a biodiversidade da cultura, até discussões teóricas sobre a agroecologia como forma de resistência e luta pela reforma agrária popular e instrumento de transformação social.
No total, são 60 participantes, distribuídos entre a Escola Milton Santos (EMS), em Maringá; o Centro de Desenvolvimento Sustentável e Capacitação em Agroecologia (Ceagro), em Rio Bonito do Iguaçu, e a Escola Latinoamericana de Agroecologia (ELAA), na Lapa.
Luciano José Carneiro, morador da comunidade Cacique Cretã, em Palmas, participou do curso no Ceagro. Desde o começo, ele se apaixonou pela proposta: “É algo, assim, instigante, que faz você querer fazer as coisas cada vez mais, produzir com qualidade, com saúde, e implantar o quanto antes, porque implantando o quanto antes você começa a já mostrar pra outros moradores da comunidade que isso é possível, é viável, também rentável, e vai contribuir não só para nós, de casa, a família, mas também para toda a natureza”.
Segundo a engenheira florestal e coordenadora do projeto Bem Viver, Priscila Monerat, “estamos presenciando muitos episódios relacionados ao caos climático, e parte desses desequilíbrios está relacionado a um tipo de agricultura que desmata, que usa muito veneno, que planta em monocultura. Ao contrário desse modelo, a agricultura camponesa tem respostas para esses dilemas, que é a produção de alimentos em quantidade e qualidade sem destruir os bens comuns”.
Para a educadora, os cursos ajudam a qualificar o trabalho que os camponeses já fazem, ou seja, amplia a produção de alimentos saudáveis e contribui no cuidado com a natureza. Há, na agroecologia, essa cosmologia – uma variedade de saberes de origens diferentes, sejam produções científicas, práticas camponesas ou indígenas.
Temas como a história da agroecologia, as políticas públicas para a agricultura familiar e assentados da reforma agrária, a relação entre agroecologia e gênero, o enfrentamento às práticas do agronegócio, a importância da proteção da biodiversidade, também fizeram parte dos cursos.
Os estudantes aprenderam na prática técnicas de saúde popular, funcionamento de cooperativas – no manejo dos produtos, na pós-colheita e na estratégia de articulação entre cooperativas –, preparo de fertilizantes naturais e caldas feitas com ingredientes simples, para fortalecer as plantas e melhorar a qualidade do solo, meliponicultura (criação de abelhas-sem-ferrão), a criação de Sistemas Agroflorestais (SAFs), como forma de produzir alimentos e ao mesmo tempo proteger a natureza, entre outras atividades.
Gisele Fernanda Mouro, zootecnista e professora do Instituto Federal do Paraná (IFPR) – Campus Ivaiporã, trabalhou, durante a formação, a meliponicultura – com o enfoque nos benefícios da polinização no cultivo e na preservação de espécies – e a homeopatia, que, segundo a pesquisadora, se constitui como ferramenta imprescindível para a criação de animais a partir de princípios agroecológicos.
O objetivo do curso é transformar as comunidades de onde vêm as camponesas e os camponeses: “A ideia é que voltem para o seu local de origem e possam causar algum tipo de transformação. Por isso existe o tempo-comunidade e o tempo-escola, dentro do currículo”, conta. O IFPR é parceiro na realização do curso na Escola Milton Santos, onde também está sendo gestada uma nova formação, aprofundando os estudos em bioinsumos e homeopatia.
O curso de capacitação faz parte de um conjunto de ações de fomento à agroecologia no Paraná realizadas pelo projeto Bem Viver. Além do curso de Auxiliar Técnico em Agroecologia, há ações específicas em torno da saúde popular, das linguagens artísticas e da comunicação.
O reflorestamento de áreas degradadas e a implantação de Sistemas Agroflorestais (SAFs) também fazem parte do projeto. Em oficinas com famílias camponesas, mais de 26 mil mudas foram plantadas em cerca de 30 mil metros quadrados – o equivalente a 40 campos de futebol. A ação chega a comunidades da reforma agrária e povos indígenas. Para a continuidade da multiplicação da agroecologia, estão sendo construídos três viveiros de mudas nativas e dois hortos medicinais, previstos para serem inaugurados este ano.
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