Aluízio Palmar também escreveu Onde Foi Que Vocês Enterraram Nossos Mortos?, que denuncia chacina no Parque – foto: Marcos Labanca / Arquivo H2FOZ
De H2Foz / Por Paulo Bogler Inimigo público do regime civil-militar (1964–1985) que conseguiu escapar da morte, o jornalista de Foz do Iguaçu Aluízio Palmar é o organizador do livro “Vozes da Resistência, Memórias da Luta contra a Ditadura Militar no Paraná”, que reúne 60 ativistas. A obra tem uma agenda de lançamentos e debates nesta semana em universidades de Curitiba (PR).
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Os coautores são militantes que participaram da resistência ao regime fardado no estado, principalmente nas décadas de 1960 e 1970, atuando nos movimentos estudantil, sindical e popular. São 450 páginas que passam a limpo a trajetória e e engajamento de pessoas, na maioria jovens, à causa da democracia e das liberdades.
Esse protagonismo é traduzido em textos próprios no livro. A ocupação do prédio da reitoria da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e as prisões no Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), em 1968, são fatos narrados. As páginas revisitam a presença e a coragem das mães que visitavam seus filhos nas prisões.
O enfrentamento à ditadura em Foz do Iguaçu e no Oeste do Paraná ganha destaque em textos de Aluízio Palmar. Ele narra a trajetória do jornal Nosso Tempo, uma pedra no sapato dos militares e que denunciou a censura e a tortura e contribuiu para pôr fim ao mando dos interventores na cidade e as tentativas de se implantar a resistência armada no campo.
“A proposta do livro ‘Vozes da Resistência’ surgiu em conversas no grupo de WhatsApp do Movimento Geração 68 do Paraná”, explica Aluízio. Esse canal, conta, reúne militantes e ativistas contra o período ditatorial, pessoas que estão na faixa dos 80 anos, e está servindo para encontros e lembranças.
Em Curitiba, nesta terça e quarta-feira (14 e 15), há lançamento do livro e palestra no prédio da reitoria e no auditório da faculdade de Direito, ambos da UFPR. E também na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Depois disso, as atividades serão agendadas em Foz do Iguaçu, conforme Aluízio Palmar.
Capa do livro ‘Vozes da Resistência’, que reúne 60 autores – foto: Reprodução
Nascido em São Fidélis (RJ), em 1943, Aluízio Palmar estudou na Universidade Federal Fluminense (UFF), foi preso, torturado e banido do país quando saiu da prisão em 1971. Na ocasião, foi trocado pelo embaixador da Suíça no Brasil, com mais 69 presos políticos.
Procurado pela repressão dentro do país e no exterior, teve a notícia de sua morte falsamente plantada em grandes jornais, para embaralhar as organizações contrárias ao regime. No livro de sua autoria, “Onde Foi Que Vocês Enterraram Nossos Mortos?”, conta que poderia ser ele um dos seis guerrilheiros atraídos na Argentina para uma chacina dentro do Parque Nacional do Iguaçu.
Quando voltou ao país, na década de 1980, o jornalista editou o jornal Nosso Tempo, que foi impresso por 15 anos. Palmar é pesquisador, mantendo o portal Documentos Revelados, um dos mais abrangentes acervos documentais no país sobre a ditadura militar, fonte de consulta para investigadores no Brasil e fora do país.
Aluízio Palmar integrou a Comissão da Verdade no Paraná e foi um dos reorganizadores do Centro de Direitos Humanos e Memória Popular (CDHMP), que presidiu. Como reconhecimento por sua atuação em defesa da democracia, recebeu a Medalha Chico Mendes de Resistência, homenagem de abrangência nacional, em 2021.
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