Uma psicóloga gaúcha encontrou uma maneira didática e acessível para criar uma ferramenta de apoio à saúde mental de crianças em meio a tragédia que assola o Rio Grande do Sul. Sabrina Fuhr lançou, gratuitamente, o livro E a Chuva… que fala sobre as consequência da enchente em linguagem simples e direta para os pequenos e pequenas.
Na obra, a autora traz elementos como a força das chuvas, a vida nos abrigos, o medo, a coletividade e a superação. Em conversa no programa Bem Viver , da Rádio Brasil de Fato, ela falou sobre os desafios emocionais que crianças vivem em meio à tragédias climáticas como a que assola do RS.
“Muitas vezes, para lidar com temas difíceis, as crianças precisam ter algum elemento lúdico, alguma ferramenta, algo que as ajude a colocar em palavras coisas que são difíceis”, disse ela sobre as razões que impulsionaram a concepção da obra.
A população infantil está entre as que mais tem a saúde mental afetada em grandes enchentes, segundo uma pesquisa da Fiocruz que avaliou mais de 70 estudos sobre o tema. Entre as condições que podem ser desenvolvidas estão estresse pós-traumático e transtorno de adaptação.
A psicóloga publicou em suas redes sociais um guia sobre como conversar e lidar com as crianças em momento como o atual. Segundo ela, o acolhimento é essencial para prevenir o trauma. Ela explicou que não se deve forçar os pequenos e pequenas a falarem e exporem os sentimentos. Mas a disponibilidade para a escuta é essencial.
“A mensagem principal para as crianças que foram impactadas diretamente pelas enchentes é a necessidade de amparo. Para prevenir o trauma, precisamos que as crianças se sintam amparadas, que tem alguém ali olhando por por elas, porque as crianças são muito vulneráveis.”
Sabrina Fuhr destacou elementos como as brincadeiras, o tempo com a rede de apoio, a paciência e o carinho como essenciais nesse processo. “Se você é responsável por uma criança que está se sentindo desamparada, é muito importante fortificar isso com ela.Talvez seja uma criança que precise que você passe um pouco mais de tempo com ela, converse um pouco mais, que possa brincar um pouco mais junto.”
Na entrevista, ela contou que a obra também tem ajudado crianças não diretamente impactadas pelas chuvas, mas que estão próximas a tragédia a entender os acontecimentos. Depois de viralizar nas redes, o livro ainda passou a impulsionar da solidariedade do público infantil de outras regiões do país.
Página da cartilha criada pela psicóloga Sabrina Führ – Imagem: reprodução
Segundo a psicóloga, o Sistema Único de Saúde (SUS) terá que reforçar a atenção primária e a prevenção para lidar com os desafios da saúde mental da população mais jovem. “Agora, estamos olhando para uma crise aguda, mas ela vai virar crônica. As crianças são a esperança no futuro, então, o olhar para elas precisa ser um olhar a nível de prevenção.”
Há cerca de duas semanas, o Ministério da Saúde afirmou que trabalha em um plano para atendimento de saúde mental no Rio Grande do Sul. O trabalho será dividido em eixos de cuidados com a população atingida, assistência à saúde mental dos trabalhadores e trabalhadoras que estão atuando na tragédia e diretrizes para os gestores do estado e dos municípios, para uma rede de atendimento continuada.
As especificações para o atendimento de populações mais vulneráveis vai compor o documento, segundo a pasta. Nesta lista estão as políticas voltadas para as crianças. Sabrina Furh ressaltou que as ações vão ter que superar os prejuízos da catástrofe, mas também obstáculos anteriores.
“Precisamos reforçar uma rede que já estava bastante fragilizada, com poucos profissionais, filas de espera, seleção de nível de gravidade de casos. Vamos precisar dar um jeito de acolher tudo. É um desafio gigante. Vamos ter que pensar muito em políticas públicas e apoio do governo para dar conta dessa demanda, que pode ter um impacto muito grande no futuro do nosso estado e do nosso país.”
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