Quadrinhos ensinam sobre arqueologia – Foto: Reprodução/C&M editora
“A arqueologia investiga como nossos ancestrais viviam, estudando a cultura material que eles produziram como ferramentas, pinturas, ruínas de casas. Cada objeto encontrado conta uma parte da história, revelando costumes, tecnologias e jeito de viver”, explica a professora para um de seus alunos no início de Vamos falar sobre Arqueologia?, uma história em quadrinhos que combina ciência e entretenimento. A publicação recém-lançada pela C&M Editora é uma inciativa das arqueólogas Marilia Perazzo, pesquisadora do Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) da USP, e Daniela Cisneiros, docente do Departamento de Arqueologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). As ilustrações são do quadrinista Jean Galvão. O livro pode ser adquirido neste link.
Com uma narrativa dinâmica e adaptada ao público infantojuvenil, esta obra oferece uma introdução didática e acessível aos princípios da Arqueologia. A ideia da obra surgiu da experiência das duas autoras na educação patrimonial com crianças e jovens na faixa etária entre 8 anos e 17 anos de idade. “Uma das coisas observadas no decorrer dessa caminhada foi a existência de uma grande lacuna sobre o conhecimento da ciência arqueológica. Nas aulas e oficinas sobre arqueologia víamos que esta ciência parecia um mundo muito distante no imaginário infantil, ainda da mesma maneira como era para a gente quando tínhamos essa idade”, comenta Marilia.
Segundo a professora, a arqueologia é frequentemente retratada na mídia de forma um pouco distorcida, muito associada a tesouros, múmias, aventuras e, por muitas vezes, a dinossauros. A ideia era desmitificar essa associação, sem, no entanto, retirar a aventura científica de conhecer o que está oculto debaixo do solo. “Com esse livro queremos apresentar o conhecimento arqueológico como via de acesso às sociedades humanas por meio dos vestígios materiais”, destaca. Ela informa ainda que muito do que se passa na história, de fato, aconteceu: “Faz parte das experiências que tivemos em sala de aula e nas atividades de campo”.
Páginas com os quadrinhos – Foto: Reprodução/C&M Editora
E o que é cultura material? pergunta uma outra aluna da história em quadrinhos: “São objetos, construções, elementos físicos que refletem aspectos tecnológicos, econômicos, artísticos e religiosos de uma sociedade (…) ou as pinturas rupestres, elaboradas pelos nossos ancestrais e que podiam ter muitas finalidades”, responde a professora. Tudo isso de um período muito antigo: a pré-história, “termo criado em 1851 na Europa para falar dos povos que existiam antes da escrita. Mas aqui no Brasil, nosso período pré-histórico, também chamado de pré-colonial, termina com a chegada dos colonizadores portugueses”, continua a professora da historinha.
O foco da obra, segundo Marilia, é entender quais os processos que arqueólogos usam para compreender essas sociedades, das mais recentes às mais antigas. “A obra destaca que o verdadeiro ‘tesouro’ para o arqueólogo é a informação que um objeto pode fornecer”, ressalta. Para ela, nesse tópico destacam-se os métodos e as técnicas de acesso às informações “enterradas”, assim como a sistemática das análises arqueológicas.
Capa do livro disponível para venda na Amazon – Foto: Reprodução/C&M Editora
Outro tópico aborda a imensa diversidade de materiais que são estudados pela arqueologia: fragmentos de cerâmica, ferramentas em rocha (materiais líticos), ossos de animais, ossos humanos, pinturas e gravuras rupestres. “Todo esse arsenal de vestígios aparece no decorrer do livro para evidenciar a importância de seu conteúdo histórico”, comenta a professora, dando um exemplo sobre uma passagem do livro sobre a vestimenta e equipamentos de uso na Arqueologia. Ela diz que esse tópico torna o conteúdo tangível e concreto para as crianças, uma vez que os personagens se vestem para ir ao campo, com os equipamentos de proteção individual (EPI), essenciais para tornar o trabalho em campo seguro e científico.
Para Marília, a importância da obra reside no fato de que ela ensina para as crianças, de forma lúdica, o propósito da arqueologia como disciplina científica e seus principais conceitos. “O livro traz uma reflexão de que através da arqueologia é possível recuperar histórias de povos indígenas, comunidades quilombolas e pessoas comuns que não aparecem nos documentos escritos. E, ao entender que toda essa informação se encontra embaixo de nossos pés (em sítios arqueológicos, inclusive nas cidades), as crianças podem passar a ver a história como algo próximo e os objetos não apenas como coisas, mas como detentores de memória das sociedades.”
O livro Vamos falar sobre Arqueologia? está à venda neste link.
Marilia Perazzo, do MAE, e Daniela Cisneiros, da UFPE, autoras do livro – Foto: Currículo Lattes
As duas autoras já se conhecem há pelo menos 20 anos e foi algo fluido, como diz Marilia. A obra foi realizada a partir dos questionamentos que escutavam das crianças e adolescentes nas aulas e oficinas e dos conceitos-chaves eleitos para integrarem a atividades de arqueologia, como contexto arqueológico, estratigrafia, arte rupestre, arqueologia subaquática, enumera. “Juntas, discutíamos a melhor maneira de transformar os conceitos em uma narrativa integrada a um ambiente escolar, mas, que todavia se expressasse visualmente por meio de personagens que conduzissem a narrativa e que, de certa maneira, representassem nossos estudantes”, afirma, explicando que optaram pela mesma estrutura de perguntas que ouviam em sala de aula. A pesquisadora destaca ainda o trabalho do quadrinista, que por meio de fotografias representou ferramentas arqueológicas, escavação e cenas realistas de sociedades antigas. “Esse feedback garantiu que a precisão visual fosse tão importante quanto a textual.”
Mais informações sobre a obra pelo e-mail: vamosfalarsobrearqueologia@gmail.com
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