Juvêncio Mazzarollo, em 1984, diante de cartazes pedindo o fim da ditadura e liberdade política no Brasil – Foto: acervo Anna Rebecca Mazzarollo
A memória de uma menina de 8 anos que visitava o amigo dos pais na prisão na década de 1980 é o fio condutor do resgate da história do cárcere do jornalista Juvêncio Mazzarollo, entre 1982 e 1984. O livro “Juvêncio – O Último Preso Político da Ditadura Brasileira” terá pré-lançamento durante o 8º Congresso Paranaense de Jornalistas, neste sábado (11), em Curitiba. Será lançado oficialmente em Foz do Iguaçu e novamente em Curitiba, em novembro.
Gaúcho, Juvêncio atuou como professor da Rede Estadual e jornalista no Oeste do Paraná. Foi, ao lado de Aluízio Palmar e João Adelino de Souza, fundador do Jornal Nosso Tempo e as reportagens publicadas nele – com críticas pesadas à desapropriação de terras no período da desapropriação de terras para construção da Hidrelétrica de Itaipu – renderam aos três processos por crimes previstos na Lei de Segurança Nacional. Apenas Juvêncio foi condenado e ficou preso em Curitiba.
A campanha por liberdade para Juvêncio tomou as ruas de Curitiba, ao mesmo tempo em que o prisioneiro fazia greve de fome – Foto: acervo Anna Rebecca Mazzarollo
Outros presos políticos estavam em cárcere em 1982, mas aos poucos, com a abertura política e eleições para governadores, foram libertados. Já Juvêncio enfrentou uma série de entraves jurídicos, o que o levou a ser o último nesta condição. Virou símbolo da luta pela redemocratização do país, em um período de muita efervescência política nas universidades e nas ruas. Tanto em Curitiba quanto em Foz do Iguaçu, cartazes pedindo a libertação dele eram exibidos em manifestações.
O livro sobre Juvêncio será lançado em Foz do Iguaçu, em novembro – Foto: reprodução
A autora, Daniela Neves, e dois de seus irmãos cresceram no meio dessa efervescência e acompanhavam os pais às visitas à Juvêncio. “Havia um grupo de militantes de esquerda, ligados à Igreja Católica, que se formou para apoiar Juvêncio, seja com visitas, levando jornais, nas ruas e mobilizando organismos nacionais e internacionais pela sua soltura. Nós fazíamos parte desse grupo, inclusive as crianças”, conta Daniela.
É possível acompanhar os eventos de lançamento pelo perfil de Instagram @danisilvaneves .
Hoje comunicadora social atuando na Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) em Foz do Iguaçu, Daniela Neves veio para o Oeste em 2023 para lecionar na Universidade Federal da Integração Latino Americana (Unila) e aqui relembrou o caso. “Soube que ele havia morrido e quis saber se essa história estava registrada em livro ou documentário. E não havia. Achei fundamental ter esse registro sistematizado para que não esqueçamos dos diversos desmandos ocorridos no apagar das luzes da ditadura no Paraná e por isso iniciei esse projeto”, conta.
Daniela: “Achei fundamental ter esse registro sistematizado para que não esqueçamos dos diversos desmandos ocorridos no apagar das luzes da ditadura” – Foto: divulgação
Ela pesquisou nos arquivos do Jornal Nosso Tempo (disponível em meio digital), entrevistou 21 pessoas que viveram aquele momento, além de documentos sobre o processo. Mais do que a prisão, fala dos movimentos sociais mobilizados em Foz do Iguaçu no período da construção de Itaipu e em Curitiba, pelas Diretas Já. O livro ainda promove uma discussão sobre o papel da Igreja Católica e Luterana no movimento de redemocratização do País e sobre o que é considerada prisão política.
Daniela Neves é jornalista, formada pela Universidade Federal de Santa Catarina, e cientista política, com doutorado pela Universidade Federal do Paraná. Foi repórter e editora nos principais veículos de imprensa do Paraná e assessora de imprensa para organizações públicas e privadas. É autora do livro Assessoria de imprensa e mídia sociais para partidos políticos (Editora Intersaberes, 2022).
Editado pela Banquinho Publicações e com apoio de produção do Instituto Edésio Passos, o livro foi aprovado pelo Edital de Fomento – Multiartes – 001/2024, da Secretaria do Estado da Cultura, com recursos da Lei Aldir Blanc.
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