.Chegamos a mais um 8 de março, já nem precisamos mais explicar o que se “comemora” nessa data. A maioria das pessoas vai dizer que é um dia de enaltecer as qualidades femininas, dia de dar flores, levar para jantar, enviar uma mensagem daquelas que se reproduz do Google ou que se recebe nos grupos de Whatsapp. Mas qual a origem dessa data tão simbólica? Quantas pessoas já se informaram a respeito? Pois bem, esse pequeno texto tem a tarefa de dar outro enfoque a este dia, talvez ele consiga, talvez não. Tentarei!
No ano de 1910, realizou-se o II Congresso Internacional das Mulheres Socialistas na cidade de Copenhague, evento que contou com o apoio da Internacional Comunista. Nesta ocasião, Clara Zetkin, membro do partido comunista alemão, propôs a criação de um dia internacional da mulher, sem estipular necessariamente o dia 8 de março para tal. É importante salientar que Clara defendia uma diferença gritante entre o feminismo burguês e o operário. Segundo ela, enquanto o movimento burguês lutava, de forma antagônica ao gênero masculino, pela conquista dos direitos fundamentais das mulheres dentro do sistema capitalista, o movimento feminista operário enxergava como único caminho para a superação das desigualdades entre os gêneros a extirpação completa do sistema vigente, o capitalismo. Ou seja, a luta não deveria ser entre os gêneros, mas entre classes. Para isso, havia a necessidade da união e resistência de todas as mulheres e homens, operárias e operários, camponesas e camponeses.
Sabemos que um dos pontos altos do comunismo no mundo foi a Revolução Russa no ano de 1917. No entanto, poucas pessoas sabem que o movimento russo, que culminou com a Revolução Bolchevique, teve seu prenúncio numa greve das operárias tecelãs russas que se iniciou no dia 8 de março daquele ano. As mulheres solicitaram o apoio dos operários do setor metalúrgico, e este movimento histórico feminino deu início a um rompante que levou à histórica greve geral de 1917, o que culminou com a Revolução Russa em outubro do mesmo ano.
Após a Segunda Guerra Mundial, o dia 8 de março (devido à greve das operárias russas) tornou-se a data de luta do movimento feminista classista. E mesmo que, com o passar dos anos, a data tenha adquirido um aspecto puramente comercial, é um marco da resistência feminista num mundo desigual, fruto do capitalismo.
Com o avanço do fascismo no último período, tornou-se mais do que necessário destacar a relevância do movimento feminista classista no combate ao ódio e a todo tipo de desigualdade e violência.
Só no Brasil são registrados, oficialmente, 12 feminicídios e 135 estupros por dia, mais de 500 mulheres sofrem algum tipo de violência física diariamente em algum canto desse país. Apenas na primeira quinzena do mês de janeiro de 2019, foram mais de 100 mulheres assassinadas por questões de gênero. As mulheres negras são as mais atingidas pela vulnerabilidade de sua condição social excludente.
Em nosso País, mais de 50% dos lares são mantidos por mulheres, por esse motivo essa parcela da classe trabalhadora é a mais atingida pela reforma trabalhista e pelo aumento do índice de desemprego. Também será a mais afetada pela proposta de Contrarreforma da Previdência.
Diante desse quadro gravíssimo de retirada de direitos e violência contra as mulheres, não nos resta outro caminho senão o das ruas, o da resistência contra o sistema que segrega, mata e destrói. Sigamos firmes, no dia 8 de março e em todos os demais dias do ano!
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Fontes de consulta:Violência contra a Mulher – cresce o feminicídioA origem socialista do dia 08 de março
_______________________________Danielli Ovsiany Becker é professora da rede pública de ensino e sindicalista em Foz do Iguaçu, Pr.
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