Numa disputa pelo pódio da Musa nem todos os poetas são iguais. Alguns abusam.
Que todos trotam e suam não há dúvida. Nos pés de uns, música. Nos de outros, ódio.
Uns treinam mais, outros nem treinam: só tramam.
Uns preferem a esteira, outros, a estrada. Tantos a fama.
Do sprinter, a pressa: do nada, explosão. O sucesso depende da largada.
Surpreende os 100 metros em menos de 10 segundos (um haiku, um epigrama)
Já o fundista emociona pela resistência. Os 42 volumes de uma maratona.
Sim, há casos de doping.
Não presumem que a vida não se resume a uma corrida,
Os pés acolchoados patrocinados pelas deusas Nike, Olympikus, Adidas.
Devagar, às vezes, se vai bem longe.
Já a pressa, se vacilar, Tropeça em sua própria ambição.
O que, no fim, se amealha: a ilusão, enfim, o sol de uma medalha.
O olhar do sprinter cruza por um instante o do fundista antes da prova: é uma pista.
Uma flecha com fogo acerta a pira olímpica. Há muito em jogo. É tudo ou nada.
Sprinter ou fundista, é preciso foco, a mente plugada (lembrem-se da fábula).
Em ambos, o fôlego como medida do tempo
e, a duras penas aprendida, a calma dos leões, a sabedoria dos campeões:
nunca comemorar antes de romper a linha de chegada.
*** Rodrigo Garcia Lopes em “O enigma das ondas” (Editora Iluminuras, 2020). Link para loja da editora: https://www.editorailuminuras.com.br/o-enigma-das-ondas
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